População indígena cresce 50% no Espírito Santo e revela nova diversidade de etnias e línguas, aponta Censo 2022.
O número de pessoas que se autodeclaram indígenas no Espírito Santo cresceu 50,3% em 12 anos, segundo dados do Censo 2022 do IBGE. O estado contabilizou 14.410 indígenas, o que representa cerca de 0,4% da população total capixaba. Em 2010, eram 9.585 pessoas, ou 0,3% dos moradores do estado.
O aumento expressivo não é apenas demográfico. Ele reflete também mudanças metodológicas do Censo, que passaram a permitir a declaração de até duas etnias por pessoa, além de um maior reconhecimento identitário e territorial das comunidades indígenas.
Diversidade em expansão
Entre 2010 e 2022, o número de etnias ou grupos indígenas declarados no Espírito Santo saltou de 76 para 107, ampliando o retrato da diversidade presente no estado.
Os três povos mais numerosos são:
- Tupiniquim – 5.983 pessoas
- Guarani – 806 pessoas
- Pataxó – 526 pessoas
Entre os Tupiniquim, 68,9% vivem em Terras Indígenas (TIs), enquanto 23,8% estão em áreas urbanas fora das TIs e 7,3% em zonas rurais fora dessas áreas.
Outras etnias também aparecem no levantamento, como Guarani Kaiowá (194), Tupinambá (170) e Puri (166), compondo um mosaico cultural que exige políticas públicas mais específicas.
Línguas indígenas e juventude
O Censo registrou 36 línguas indígenas faladas ou usadas em domicílios no Espírito Santo por pessoas com dois anos ou mais. Em 2010, eram 42 — uma leve redução que aponta a necessidade de políticas de revitalização linguística.
As línguas mais faladas no estado são:
- Guarani: 320 falantes
- Tupi (não especificado): 135 falantes
- Avá Guarani: 100 falantes
- Guarani Mbya: 62 falantes
Um dado relevante é que a idade mediana dos falantes de línguas indígenas é de 25 anos, enquanto a idade média geral da população indígena é de 35 anos. Isso indica que a preservação linguística está nas mãos de uma geração mais jovem, o que pode representar uma oportunidade para fortalecer a educação bilíngue e a cultura tradicional.
Urbanização e território
Os números também mostram que uma parcela significativa dos indígenas capixabas vive fora de Terras Indígenas, seja em áreas urbanas ou rurais. Essa realidade demanda novos formatos de políticas públicas, que contemplem acesso a moradia, saneamento, educação e saúde para comunidades que não estão em territórios oficialmente reconhecidos.
Reconhecimento e visibilidade
Os resultados do Censo 2022 reforçam o avanço da autodeclaração indígena e evidenciam um processo de fortalecimento identitário. Segundo especialistas, a ampliação da diversidade registrada decorre tanto da melhor metodologia de coleta de dados quanto do reconhecimento crescente das origens e tradições por parte das próprias comunidades.
Apesar dos avanços, a pesquisa também aponta desafios: redução no número de línguas faladas, urbanização crescente e necessidade de políticas mais direcionadas para garantir a preservação cultural e o pleno acesso à cidadania.
Um retrato em transformação
Com 14.410 indígenas, 107 etnias e 36 línguas declaradas, o Espírito Santo mostra-se um estado de rica complexidade étnica e cultural. O dado mais jovem entre os falantes de línguas tradicionais revela um potencial de continuidade cultural, mas também fragilidades estruturais que precisam ser enfrentadas.
Para especialistas e lideranças indígenas, o desafio agora é transformar esses dados em ações concretas de educação, saúde e proteção territorial, garantindo que a pluralidade identificada pelo Censo se traduza em reconhecimento e direitos efetivos.
