Pescadores de Vitória protestam contra projeto de urbanização do Canal de Camburi

Imagem: Divulgação/PMV

A apresentação do projeto de reurbanização do Canal de Camburi, feita pela Contractor Engenharia e pela Prefeitura de Vitória, gerou indignação entre os pescadores da região. Segundo os trabalhadores, a reunião serviu apenas para “sacramentar” um projeto já fechado, sem espaço para escuta ou mudanças.

“Convocaram os pescadores só para dizer que chamaram. Ninguém quis ouvir de verdade”, desabafou Antônio Queiroz, representante da comunidade pesqueira.

A principal crítica foi a falta de diálogo efetivo. Os pescadores afirmam que não conseguiram sequer entender o conteúdo apresentado, devido a problemas técnicos como som ruim, projeção fraca e eco no auditório improvisado. “Parecia de propósito. A gente saiu sem entender nada”, disse Queiroz.

Preocupações com remoção de barcos e falta de estrutura

Outro ponto sensível diz respeito à remoção das embarcações que ocupam o canal. Para permitir a passagem de dragas e equipamentos da obra, os barcos precisarão ser deslocados — uma ideia que enfrenta forte resistência. Segundo os pescadores, não há proposta concreta para infraestrutura de apoio, como rampas de encalhe ou manutenção. Em vez disso, o projeto prevê apenas uma rampa para jet ski e pesca esportiva, o que acentua o sentimento de exclusão.

“Não é um projeto para pescador. Fizeram para turismo e elite”, afirmou Antônio.

Como exemplo de boas práticas, ele cita o município de Cachoeiro de Itapemirim, onde a prefeitura fornece tratores para auxiliar na retirada das embarcações. “Lá, pelo menos, dão estrutura mínima”, comparou.

Projeto inclui marina, restaurantes e peixaria simbólica

O projeto prevê ainda a construção de marina, passarelas, quiosques, restaurantes e uma peixaria. No entanto, os pescadores apontam que a proposta não condiz com a realidade local. A estrutura apresentada inclui apenas uma “portinha, uma banquinha e uma balança”, o que não atende às demandas da comunidade.

“O ideal seria ter vários boxes, para cada pescador vender direto da pedra”, explicou.

Além disso, há denúncias de retirada irregular de vegetação nativa do manguezal e descarte de galhos sobre os barcos. “A sombra das árvores é o nosso abrigo do sol. Estão destruindo tudo, como fizeram na Ilha das Caieiras”, lamentou.

Pescadores exigem revisão e inclusão no processo

A reunião terminou sem respostas concretas. A única promessa foi de que a empresa contratada entraria em contato individualmente com cada pescador, o que foi visto como uma tentativa de desarticulação.

A comunidade exige que suas reivindicações sejam levadas em conta antes do avanço das obras. Entre os pedidos estão:

  • Construção de rampas adequadas
  • Atracadouro seguro
  • Estrutura para manutenção de barcos
  • Infraestrutura de venda direta
  • Preservação da vegetação nativa

Para os pescadores, a urbanização não pode acontecer às custas da exclusão de uma comunidade centenária que faz parte da identidade de Vitória.

Contexto do projeto “Vitória de Frente para o Mar”

O projeto integra o plano “Vitória de Frente para o Mar”, que pretende conectar São Pedro a Camburi com uma orla contínua. A primeira fase foi entregue em julho de 2024, com a nova orla de São Pedro. A segunda, em andamento, inclui as orlas de Santo André, Redenção, Nova Palestina e Resistência. Estão previstas ainda a Orla de Andorinhas e a reurbanização da Avenida Beira-Mar.

O Jornal Repórter Capixaba solicitou um posicionamento da Prefeitura de Vitória, mas não obtivemos resposta. Quando, e se, ela vier atualizaremos a reportagem.