
A guerra comercial entre Estados Unidos e China atingiu um novo ápice nesta sexta-feira (11), após o governo de Pequim anunciar um aumento das tarifas sobre produtos norte-americanos para 125%, em resposta à decisão do presidente Donald Trump de elevar os impostos de importação sobre produtos chineses para 145%. A escalada tarifária reacendeu temores de recessão global e jogou os mercados internacionais em mais uma rodada de instabilidade.
China mostra força e desafia Trump
O governo chinês deixou claro que não recuará diante do que classifica como “bullying unilateral” dos EUA. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, publicou nas redes sociais imagens históricas do presidente Mao Tsé-Tung durante a Guerra da Coreia, acompanhadas da frase: “Somos chineses. Não temos medo de provocações. Não vamos recuar.”
Embora os danos econômicos recíprocos sejam evidentes, Pequim afirma estar em posição de resistir. Antes da guerra tarifária, as exportações chinesas para os EUA representavam apenas 2% do PIB nacional, o que reduz o impacto macroeconômico das sanções americanas.
O presidente Xi Jinping reforçou a postura do país ao declarar, em encontro com o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, que China e União Europeia devem “resistir conjuntamente às práticas unilaterais de coerção”.
Estratégia global da China se intensifica
Paralelamente ao embate com Washington, Pequim intensificou os contatos diplomáticos e comerciais com diversos países, incluindo África do Sul, Arábia Saudita, Índia, Malásia, Vietnã e Camboja — nações que também vêm sofrendo os efeitos da política tarifária norte-americana.
Além disso, China e União Europeia negociam um acordo para substituir tarifas por preços mínimos sobre veículos chineses, buscando conter o risco de um novo ciclo de dumping industrial.
Trump diz que “tudo vai bem”, mas mercado reage mal
Mesmo diante do agravamento da crise, o presidente Trump afirmou em sua rede Truth Social que a estratégia tarifária está “indo muito bem” e que os EUA estão “à beira de uma nova era dourada”. No entanto, especialistas de Wall Street discordam.
Larry Fink, CEO da BlackRock, alertou para os sinais de recessão iminente, enquanto Jamie Dimon, do JPMorgan Chase, destacou a “turbulência considerável” enfrentada pela economia norte-americana. O sentimento do consumidor caiu 11% neste mês, atingindo seu pior nível desde a pandemia, de acordo com levantamento da Universidade de Michigan.
Impacto global e reações internacionais
A tensão comercial refletiu diretamente nos mercados. O índice Nikkei 225 caiu 5%, enquanto bolsas na Europa registraram quedas moderadas. O dólar perdeu força frente ao euro e à libra.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a União Europeia pausará temporariamente medidas retaliatórias por 90 dias, mas advertiu que “todas as opções seguem sobre a mesa”.
O presidente francês Emmanuel Macron chamou a trégua de “frágil” e cobrou ações coordenadas da Europa. O ministro das Finanças da Alemanha, Jörg Kukies, reforçou que o continente está pronto para retaliações, caso as negociações fracassem.
Consumidores e exportadores pagarão a conta
O impacto da guerra comercial deverá ser sentido diretamente pelos consumidores. Um estudo do Laboratório de Orçamento da Universidade de Yale estima que famílias norte-americanas perderão, em média, US$ 4.700 por ano, e que o PIB dos EUA poderá encolher 1,1%.
Na China, os efeitos das tarifas se somam a uma crise imobiliária prolongada, alto desemprego juvenil e crescimento desacelerado. O Goldman Sachs reduziu a projeção de crescimento do PIB chinês para 4% — abaixo da meta de 5% fixada por Pequim.
Guerra comercial vira símbolo político
Analistas apontam que, com o comércio bilateral já severamente comprometido, os sucessivos aumentos de tarifas perderam sua eficácia econômica e tornaram-se gestos simbólicos. A disputa, agora, serve mais como palco político do que como ferramenta comercial.