ONU enfrenta cortes drásticos no orçamento de 2026

A Organização das Nações Unidas (ONU) vive uma das maiores crises financeiras de sua história. O secretário-geral António Guterres alertou que a instituição enfrenta uma verdadeira “corrida para a falência” caso os Estados-membros não quitem suas contribuições em dia. O orçamento regular proposto para 2026 foi reduzido para US$ 3,238 bilhões, uma queda de 15,1% em relação ao valor aprovado para 2025.

O novo plano de gastos representa uma retração significativa frente à proposta original, de US$ 3,715 bilhões, e reflete o impacto direto dos atrasos nas contribuições e da devolução de créditos aos países. No fim de 2024, os atrasos somavam cerca de US$ 760 milhões, e a ONU ainda precisará devolver US$ 300 milhões em 2026. Guterres advertiu que, se o cenário persistir, o déficit poderá chegar a US$ 600 milhões em 2027, comprometendo 20% do orçamento anual da organização.

A proposta inclui um corte expressivo de pessoal. O total de cargos passará de 13.809 para 11.594, uma redução de quase 19%. As demissões devem afetar principalmente setores administrativos, preservando programas voltados a países menos desenvolvidos, pequenas ilhas e nações africanas. Mesmo com os ajustes, continuam garantidos os financiamentos das 37 Missões Políticas Especiais, do Sistema de Coordenadores Residentes e do Fundo de Consolidação da Paz.

A ONU tenta equilibrar as contas com medidas de contenção e reestruturação, dentro da chamada Iniciativa ONU80, que busca tornar o Secretariado mais ágil e econômico. Entre as ações previstas estão a unificação global da folha de pagamento, o deslocamento de funções para sedes mais baratas e a criação de plataformas administrativas compartilhadas em Nova York e Bangcoc.

Nas próximas semanas, o orçamento revisado será debatido no Quinto Comitê da Assembleia Geral, responsável pelas finanças da instituição. A aprovação final deve ocorrer até o fim de dezembro. Guterres insistiu que a falta de consenso sobre o mecanismo de suspensão de devoluções de crédito pode paralisar projetos essenciais e comprometer a atuação global da ONU.