
Pesquisadores britânicos investigam longevidade e fertilidade das rainhas das colmeias para criar terapias revolucionárias no futuro.
Já imaginou viver mais tempo e com mais saúde, sem abrir mão da vitalidade e da fertilidade? Um projeto científico bilionário, financiado pelo governo britânico, aposta que a resposta para isso pode estar nas abelhas — mais precisamente nas abelhas rainhas.
O que parece um enigma da natureza intriga a ciência há décadas: embora compartilhem exatamente o mesmo DNA das operárias, as rainhas vivem até cinco anos (ou mais), enquanto as operárias sobrevivem por apenas algumas semanas durante o verão. Além disso, as rainhas permanecem férteis por toda a vida, o que contrasta fortemente com o declínio natural da fertilidade em humanos.
Pesquisa de alto risco com orçamento de R$ 5 bilhões
Diante desse fenômeno biológico, cientistas do Reino Unido estão mergulhando fundo para desvendar os mecanismos que permitem tamanha longevidade e vigor nas abelhas rainhas. O projeto é apoiado pela Advanced Research + Invention Agency (Aria), uma agência de inovação científica criada pelo governo britânico para financiar estudos de alto risco e alto impacto. O investimento: 800 milhões de libras esterlinas, o equivalente a 5,04 bilhões de reais.
“A natureza encontrou soluções muito eficazes para os desafios da longevidade e da fertilidade”, disse ao The Guardian o professor Yannick Wurm, diretor do programa. “Se entendermos como isso funciona nas abelhas, podemos adaptar esse conhecimento à biologia humana.”
Micróbios e geléia real: as pistas da longevidade
Entre as descobertas mais promissoras da pesquisa está o papel dos microrganismos intestinais. Em testes recentes, cientistas conseguiram aumentar significativamente a vida das abelhas operárias ao transplantar microbiomas de abelhas rainhas para elas. Essa simples alteração no ecossistema intestinal foi suficiente para retardar o envelhecimento das operárias.
Outro componente-chave é a geléia real, uma substância altamente nutritiva produzida pelas abelhas operárias e destinada exclusivamente à rainha. Rica em proteínas, vitaminas e antioxidantes, a geléia real parece não apenas sustentar a fertilidade da rainha, mas também garantir sua resistência biológica ao longo dos anos.
Longevidade humana no radar da ciência
A ambição da Aria é clara: levar os aprendizados do mundo natural à medicina humana. Se os cientistas conseguirem identificar como determinados compostos ou microrganismos impactam a longevidade e a fertilidade nas abelhas, é possível que surjam novos tratamentos para combater o envelhecimento precoce, preservar a fertilidade por mais tempo e até revolucionar o transplante de órgãos, ao retardar o desgaste celular.
Mas nem tudo são certezas. A diretora de produtos da Aria, Pippy James, reconhece que pesquisas desse tipo exigem tempo, testes e tolerância ao fracasso. “Muitas vezes, um projeto que não dá certo pode se tornar a base para algo transformador. Estamos preparados para isso”, disse ela.
Um futuro que começa na colmeia
Embora ainda em estágios iniciais, o projeto já acende uma luz promissora para o futuro da ciência da longevidade. Se as rainhas das colmeias puderem ensinar os humanos a “viver mais e melhor”, essa descoberta poderá ser um divisor de águas no campo da saúde e do envelhecimento.