Mucane comemora 25 anos como espaço de valorização da cultura negra

Espaço de resistência, memória e fomento da cultura afrodescendente, o Museu Capixaba do Negro“Verônica da Pas”, popularmente conhecido como Mucane, completa, em 2018, 25 anos de existência.

Ao longo de duas décadas e meia, o local foi sendo construído como espaço voltado para o desenvolvimento do saber, com políticas de ações afirmativas de reparação, de reconhecimento e de valorização da história da cultura afro, através de diversos serviços destinados à política de valorização da cultura negra, além da preservação de sua memória e identidade.

No Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em novembro de 2017, quase 53% da população é formada por negros (pretos e pardos). Este grupo étnico, que enfrenta o racismo e suas consequências cotidianamente, é o mesmo que tem uma importância inquestionável para a formação cultural do país.
“Comemorar os 25 anos do Museu Capixaba do Negro representa a concretização política e cultural de um espaço específico para a comunidade afrodescendente. A potência desse espaço é refletida não somente em suas atividades artísticas, sociais e políticas, mas também – e talvez até principalmente – como um símbolo de toda a contribuição cultural que nos é essencial, necessária”, disse o secretário municipal de cultura, Francisco Grijó.
Para celebrar a data, a programação une a tradição e o contemporâneo, com música, dança e artes visuais, além de pautas que apresentam novos olhares sobre a construção da história da população negra no Brasil.
“O Mucane é um espaço de construção e debate de políticas públicas da população negra. Para isso, a participação do Conselho Gestor, que conta com entidades, coletivos, artistas e produtores, negras e negros, é fundamental. A manutenção deste espaço é primordial com ações que fortalecem o diálogo sobre todos os temas que nos atravessam como povo. As atividades deste aniversário reforçam a resistência que construiu este espaço e que o mantém vivo”, disse a coordenadora do museu, Thaís Souto Amorim.
Na quarta-feira (9), às 19 horas, acontece a abertura da exposição “UJUZI: Conhecimento é Poder”, do Coletivo UHURU. O trabalho tem a proposta de aproximar o público das principais linguagens africanas, através do grafite, vídeo mapping, artes plásticas e simbologias africanas.
“Acreditamos que devemos utilizar de todos os meios possíveis que amplie e facilite a absorção de conhecimento da cultura Africana. Com base nisso, o projeto propõe um olhar sensível a esse (re)conhecimento, valores e tradições, mostrando a relevância do resgate de comunicações ancestrais”, explicou o coletivo.
O trabalho foi contemplado no Edital de Seleção de Projeto de Ocupação do Museu Capixaba do Negro “Verônica da Pas”- Mucane, ano 2017/2018, Categoria I – Exposição Artística, e realizado com recursos do Fundo Municipal de Cultura.
Entre os dias 10 e 12 de maio, às 9 e 14 horas, acontece uma mediação especial intitulada “Desconstrução do 13 de Maio”. “O dia 13 de maio foi construído sobre uma história oficial que não correspondia à realidade do País. Uma história que omitiu as inúmeras lutas dos povos negros e indígenas, unidos ou não aos grupos abolicionistas formados também por brancos”, diz Ariane Meirelles, profissional da dança afrobrasileira.
No dia 13 de maio, dia do aniversário do museu, a partir das 16 horas, acontece a programação cultural “Memória e Resistência”, que aproxima a tradição do contemporâneo, através da dança e da música.
Abrindo a programação, a performance “Kalunga”, do Coletivo Emaranhado, que irá utilizar todo o espaço térreo do Mucane, para apresentar uma história autoral sobre a relação do homem com a divindade Iemanjá. O trabalho é resultado da participação dos professores nas oficinas do projeto Corpo Afro.
“O ‘Kalunga’ coloca em prática os ensinamentos dos professores durante as oficinas. É a concretização das oficinas com os profissionais que participaram como instrutores” explicou Maicom Souza, integrante do coletivo.
Na sequência a cantora Monique Rocha apresenta o show “O Canto da Guerreira”, que faz um mergulho no trabalho de Clara Nunes. No palco, o universo afro e religioso da cantora é relembrado por um repertório com os grandes clássicos da artista como “O Mar Serenou”. O espetáculo foi contemplado no Edital de Seleção de Projeto de Atividade Artística e Cultural, ano 2017/2018, na Categoria VI – Música, com recursos do Fundo Municipal de Cultura.
Encerrando a programação, Rincon Sapiência. O rapper, que fez colaborações nos trabalhos recentes de Alice Caymmi e IZA, vai apresentar as canções do seu álbum de estreia, “Galanga Livre”, que reúne músicas de forte teor político e social, ao lado de canções de amor, em um repertório que extrapola musicalmente o rap e abre espaço para o samba, o funk, a ciranda e a música africana.
Mucane
Criado em 13 de maio de 1993, através do decreto nº 3.527, de 1993, o Museu Capixaba do Negro “Veronica da Pas” (Mucane) é um espaço de convergência de serviços destinados à população negra e à comunidade em geral. No local, acontecem cursos e oficinas de formação artística, além de espaços para o debate e exposições voltadas para a história e identidade negra.
Desde sua reabertura, em 2012, o museu realizou quase duas dezenas de exposições, em parceria com artistas e coletivos ou por meio de edital de ocupação de espaços, realizado pela Secretaria Municipal de Cultura (Semc).
As mostras também desenvolvem trabalhos voltados para a arte-educação, que tem o objetivo de ampliar o debate proposto pelos temas apresentados na sala expositiva. Em 2017, mais de 1,5 mil alunos – de escolas municipais, particulares, faculdades e universidades – participaram das visitas guiadas às exposições.
No mesmo ano, foram realizadas seis oficinas nas áreas da dança, música e contação de histórias, com 170 alunos matriculados, seis exposições, nove lançamentos de livros e 38 eventos, que atingiu um público atingido de aproximadamente sete mil pessoas.
O Mucane também é a sede da Biblioteca Joaquim Beato, que tem um acervo de mais de 400 títulos, com publicações que tratam desde questões sociais e religiões de matriz africana até a literatura contemporânea. Sua proposta é de atender uma demanda diversificada de estudos das relações étnico-raciais no que se refere ao trabalho educativo sobre o antirracismo no Brasil.