Motim bolsonarista no Congresso escancara crise institucional, apesar da aprovação da isenção do IR

O Brasil acompanhou, nas últimas horas, dois episódios emblemáticos que dizem muito sobre o atual momento político do país. De um lado, a aprovação da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda, que beneficiará milhões de brasileiros. De outro, um fato gravíssimo e sem precedentes: parlamentares bolsonaristas se amotinaram no Congresso Nacional, paralisando sessões e afrontando diretamente o funcionamento das instituições democráticas.

Embora a aprovação da isenção do IR seja uma conquista com apelo popular, ela não esconde — nem neutraliza — a crise institucional em curso. O que se viu no Parlamento foi uma tentativa explícita de transformar o Congresso em palco de confronto e sabotagem, numa afronta direta ao regimento e ao Estado democrático de direito.

Motim parlamentar: ataque à democracia no coração do poder

Deputados e senadores ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro protagonizaram um espetáculo lamentável: obstruíram fisicamente comissões e sessões, intimidaram colegas e ignoraram as normas básicas de convivência política. Esse comportamento não se trata de “resistência”, mas sim de um ataque deliberado às regras democráticas.

É fundamental lembrar que o Congresso é o espaço institucional do debate, e não da imposição de vontade por gritaria ou tumulto. A tentativa de capturar o Parlamento por meio de desordem organizada e violência simbólica coloca o país em um terreno perigoso, onde o diálogo cede lugar ao autoritarismo.

A contradição entre o gesto político e a crise institucional

A aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até dois salários mínimos (R$ 2.824,00) foi celebrada por muitos parlamentares como uma vitória da sensibilidade social. E de fato, trata-se de uma medida importante — há muito tempo reivindicada pela sociedade brasileira.

No entanto, esse gesto, embora relevante, foi ofuscado pela radicalização bolsonarista que contaminou os corredores do Legislativo. O contraste é evidente: enquanto o plenário aprova um alívio fiscal para milhões, uma parte dos parlamentares se dedica a criar instabilidade e desrespeitar as normas da casa.

Não se trata apenas de incoerência política, mas de um jogo duplo perigoso — onde se entrega um benefício popular ao mesmo tempo em que se mina a base institucional que sustenta essas conquistas.

O bolsonarismo e sua lógica destrutiva

O motim no Congresso não foi um ato isolado. Ele integra uma estratégia mais ampla, já conhecida, que tenta sabotar as instituições por dentro. Ao transformar o Parlamento em palco de guerra ideológica, os aliados de Bolsonaro reforçam sua narrativa de desconfiança nas instituições, preparando terreno para novos episódios de radicalização.

Ao mesmo tempo, tentam capitalizar medidas populares, como a isenção do IR, para manter sua base mobilizada. É a política do caos: entregar benefícios pontuais enquanto se dinamita o edifício democrático.

Hora de reagir com firmeza

O que está em jogo vai muito além de uma disputa entre grupos políticos. Trata-se da defesa do próprio regime democrático, que depende do respeito às regras, do funcionamento das instituições e da responsabilidade dos eleitos. O silêncio ou a omissão diante do motim bolsonarista equivale à conivência.

É fundamental que as Mesas Diretoras da Câmara e do Senado adotem medidas firmes e exemplares para restaurar a autoridade do Parlamento. A democracia não pode ser refém de minorias extremistas.

A aprovação da isenção do Imposto de Renda foi uma boa notícia. Mas ela não pode servir como cortina de fumaça para a grave crise institucional vivida nas últimas 48 horas. O Parlamento brasileiro precisa se posicionar com clareza: ou defende sua legitimidade e papel democrático, ou corre o risco de se tornar refém do autoritarismo travestido de oposição.

A democracia é feita com voto, debate e respeito. Motins, tumultos e sabotagem não cabem nessa equação — e devem ser enfrentados com a firmeza que o momento exige.