
Edward Lancelot Wickfield? Não, é o Zé mesmo.
Imagine descobrir que aquele juiz sério, toga impecável, latim fluente e ar de nobreza britânica na verdade era… o Zé. Sim, Zé Eduardo Franco dos Reis. Um brasileiro legítimo, nascido em Águas da Prata (SP), que durante mais de 40 anos convenceu todo mundo de que era ninguém menos que Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield. Nome digno de herança no castelo de Windsor e chá das cinco com a rainha.
Mas nem tudo que reluz é nobreza.
Um nobre de papel passado (e falso)
O caso veio à tona em outubro de 2024, quando o nosso “Sir Wickfield” tentou renovar seu RG no Poupatempo. Nada mais paulistano. Só que, desta vez, a biometria entrou em cena e descobriu que Edward, na verdade, era Zé. Foi como se Sherlock Holmes tivesse usado o leitor digital de impressões em vez da lupa.
A Polícia Civil ficou intrigada e fez o que se espera: investigou. Resultado? Nome falso, documentos forjados e uma carreira inteira construída sob identidade fictícia. O Ministério Público de São Paulo agora o acusa de falsidade ideológica, uso de documento falso e… imagina o climão no grupo de WhatsApp dos juízes aposentados?
O começo da farsa: um RG e muita criatividade
A saga começou nos anos 80, quando José — agora revelado — decidiu que Zé era nome comum demais pra ele. Criou um RG com nome aristocrático, inventou pais com sobrenomes franceses e britânicos, ingressou na Faculdade de Direito da USP e virou juiz em 1995. Um verdadeiro “The Crown” com toques de “Chaves”.
Na época, ninguém desconfiou. Pelo contrário. Em 1995, uma matéria da Folha de S.Paulo o apresentava como um “descendente de nobres britânicos” e ele próprio dizia ter vivido na Inglaterra até os 25 anos. Quase um Mr. Darcy de Limeira.
Currículo de causar inveja – e agora, problemas
O nobre de araque ocupou diversos cargos respeitados, coordenou o núcleo da Escola Paulista da Magistratura e se aposentou em 2018 — sempre como Edward Wickfield. Até receber a visita da verdade em 2024.
E com a verdade veio o MP-SP: cancelamento de CPF, RG, passaporte e a recomendação de não sair da cidade (nem com varinha mágica). Um final digno de novela — mas daquelas que passam às 22h com muita reviravolta.
Moral da história: cuidado com nomes compostos demais
Se seu colega de trabalho tiver quatro sobrenomes estrangeiros, sotaque duvidoso e disser que foi criado por barões ingleses… desconfie. Pode ser só o Zé da esquina com uma ótima história e um RG bem criativo.