Heróis do mar: mergulhadores salvam tubarão-lixa com anzol preso no estômago e evitam tragédia ambiental

Foto: Divulgação/Sea World Foundation

Do fundo do oceano à superfície do barco, um tubarão lutou pela vida — até ser resgatado por uma equipe corajosa. Com um anzol fincado profundamente no estômago, o animal corria risco de morte lenta. Por sorte, mergulhadores e veterinários uniram forças para libertá-lo, desafiando correntes fortes e visibilidade ruim. A operação devolveu o tubarão ao mar, ressaltando o drama silencioso causado pela pesca. Entretanto, o episódio reforça um problema gravíssimo e crescente: o impacto dos anzóis na vida marinha.

Salvamento dramático e arriscado

A operação que salvou a fêmea adulta de tubarão-lixa ocorreu na costa de New South Wales, na Austrália, em uma ação conjunta entre mergulhadores especializados e uma equipe veterinária marinha. O animal, debilitado e nadando com dificuldade, havia engolido um anzol preso profundamente no estômago — o que poderia levá-lo à morte em poucos dias.

O resgate exigiu perícia e coragem. Em meio a correntes fortes e visibilidade reduzida, os mergulhadores conseguiram conter o tubarão e conduzi-lo cuidadosamente à superfície. Para evitar acidentes, os profissionais utilizaram um tubo de PVC de grande diâmetro como proteção, permitindo alcançar a linha de pesca que levava ao anzol preso dentro do estômago. Após um procedimento minucioso, a equipe conseguiu remover o equipamento e liberar o animal de volta ao mar.

Este foi o terceiro resgate de tubarão-lixa em apenas seis semanas, o que reacendeu o alerta entre ambientalistas e centros de pesquisa sobre a frequência dos acidentes envolvendo equipamentos de pesca.

Um problema global — milhões de tubarões em risco

Estudos internacionais apontam que milhões de tubarões em todo o mundo carregam anzóis presos nos corpos, muitas vezes de forma permanente. Em levantamentos realizados ao longo de vários anos, observou-se que uma parcela significativa de tubarões de diferentes espécies já havia sido fisgada ao menos uma vez. Em alguns casos, o anzol permanece dentro do animal durante toda a sua vida, provocando danos que vão de infecções a hemorragias internas.

Pesquisas de longo prazo também revelam que cerca de 5% dos tubarões analisados em determinadas regiões apresentavam um ou mais anzóis nos estômagos — um número alarmante e que mostra a profundidade do problema. Dependendo do local em que o anzol fica preso, o tubarão pode ter dificuldade para se alimentar, nadar ou até mesmo respirar adequadamente. Quando linhas de pesca ficam envolvidas em barbatanas e caudas, há casos de necrose de tecido e morte lenta.

Por que isso acontece? A pesca e seus impactos invisíveis

Grande parte desses acidentes é resultado do bycatch, a captura acidental durante pescarias destinadas a outras espécies. Anzóis, linhas e redes acabam atingindo tubarões, raias, tartarugas e outros animais que não são o alvo da pescaria. Mesmo quando soltos de volta ao mar, esses animais podem carregar danos internos severos, que comprometem sua sobrevivência.

Para tentar contornar esse problema, tecnologias mais seguras vêm sendo desenvolvidas. Entre elas, anzóis magnéticos e dispositivos eletrônicos que repelem tubarões, reduzindo em até 90% o risco de captura acidental — especialmente em pescarias de longa linha, muito comuns nos oceanos internacionais.

Preservação ou pesca: um dilema em águas brasileiras

No Brasil, a situação se agrava pela combinação entre pesca predatória, fiscalização insuficiente e falta de critérios técnicos claros. Em 2025, a captura do tubarão-azul — conhecido popularmente como “cação” — voltou a ser permitida mediante cotas anuais, mesmo com alertas de cientistas sobre o risco de colapso populacional. Especialistas destacam que a liberação ocorreu sem estudos robustos que garantam a sustentabilidade da espécie, e que o sistema de fiscalização, baseado em poucos observadores de bordo, abre brechas para irregularidades.

Ambientalistas alertam que permitir a captura de espécies vulneráveis, enquanto tubarões continuam morrendo após engolirem anzóis descartados ou perdidos no mar, representa um retrocesso ambiental e compromete o equilíbrio dos ecossistemas costeiros do país.

Conclusão e o apelo urgente por mudanças

O resgate do tubarão-lixa na Austrália simboliza a luta silenciosa dos animais marinhos contra os impactos da pesca industrial. Cada anzol removido representa uma vida que pode voltar a cumprir seu papel ecológico no oceano. Entretanto, histórias como essa mostram apenas a superfície de um problema muito maior.

Para reverter esse cenário, é urgente ampliar a fiscalização, implementar tecnologias menos agressivas, proibir a pesca de espécies ameaçadas e tornar mais transparente a cadeia produtiva que vende tubarão como “cação”. Somente com mudanças estruturais será possível garantir que os mares continuem vivos — e que resgates dramáticos deixem de ser a última esperança desses animais.