
Crianças morrem de fome diante dos olhos dos pais, enquanto tanques israelenses avançam sobre os últimos refúgios civis de Gaza. A situação no enclave palestino entrou em uma nova etapa, descrita por funcionários da ONU como “a fase da morte”, marcada pelo caos, desnutrição e desespero absoluto. Famílias inteiras são obrigadas a fugir sem ter para onde ir, presas em uma faixa de terra onde já não há água, comida, medicamentos ou abrigo seguro. Mesmo com promessas de rotas humanitárias seguras, comboios com alimentos foram atacados no fim de semana, deixando dezenas de mortos. O centro de Gaza, até então um dos últimos refúgios, agora também é alvo de ordens de evacuação e operações militares intensas.
Terror sem refúgio: Gaza entra na “fase da morte” em meio ao colapso humanitário
O drama humanitário na Faixa de Gaza atingiu um novo ponto crítico. Em meio a bombardeios, fome extrema e o colapso dos serviços básicos, a ONU descreveu a situação atual como “a fase da morte”. O termo foi usado por um funcionário da UNRWA, a agência da ONU para refugiados palestinos, que afirmou: “Tudo ao redor das pessoas neste momento é morte – sejam bombas, greves ou crianças definhando por desnutrição e desidratação”.
A descrição brutal reflete a realidade enfrentada por cerca de 2,1 milhões de civis espremidos no sul de Gaza, após sucessivas ordens de deslocamento forçado emitidas por Israel. De acordo com o Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), mais de 88% da faixa já está sob ordens militares ou zonas de combate. Não há saída para os civis, que seguem encurralados em um território cada vez mais devastado.
A cidade de Deir Al-Balah, no centro da Faixa, tornou-se o novo foco das operações militares israelenses, com tanques avançando pelas regiões leste e sul. Pela primeira vez desde o início da guerra, em 7 de outubro de 2023, a cidade recebeu uma ordem de evacuação em massa, afetando entre 50 mil e 80 mil pessoas. A medida fragmenta ainda mais o território e torna o trabalho das agências humanitárias quase impossível, segundo o OCHA.
Enquanto isso, no norte, mais uma tragédia humanitária ocorreu no fim de semana. Um comboio de 25 caminhões com alimentos, autorizado a cruzar o ponto de fronteira de Zikim, foi atacado ao se aproximar de multidões famintas. Segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA), civis desesperados foram alvejados por atiradores e tanques israelenses. Ao menos 67 palestinos foram mortos no episódio, descrito como “uma das maiores tragédias” já enfrentadas pela agência.
A violência ocorreu apesar das garantias das autoridades israelenses de que comboios de ajuda não seriam alvos. No entanto, a realidade em campo contradiz essas promessas, afirmou o diretor de emergências do PMA, Ross Smith. “As vítimas estavam apenas tentando alimentar a si mesmas e suas famílias à beira da fome”, disse.
O cenário é agravado pela total escassez de recursos. Hospitais estão lotados de crianças esqueléticas e desidratadas, segundo reportagens recentes do The Guardian e BBC. A água potável praticamente desapareceu, e as clínicas da UNRWA relatam que enfermeiros e médicos assistem impotentes à morte de crianças diante de seus olhos. “Eles não têm o que oferecer. Nem alimentos, nem medicação”, declarou Louise Wateridge, porta-voz da agência.
O colapso é tão severo que mais de 100 organizações internacionais pediram medidas urgentes à comunidade global para conter a fome em Gaza. Em carta divulgada na última semana e reforçada pela Agência Brasil, os grupos alertam para o risco iminente de um genocídio por inanição, caso a ajuda não seja retomada de forma segura e imediata.
No sul, outro episódio trágico evidenciou o perigo até mesmo nas áreas designadas como “seguras”. Ao menos 36 palestinos morreram quando buscavam comida perto de um centro da Fundação Humanitária de Gaza, sob gestão israelense e americana.
A ONU segue mantendo dezenas de instalações em Deir Al-Balah, cujas coordenadas foram comunicadas às partes envolvidas no conflito. No entanto, essas estruturas civis correm risco constante, e agências alertam que, sem garantias mínimas de segurança, será impossível continuar operando.
Ainda paira sobre a região a possibilidade de que reféns capturados nos ataques do Hamas em outubro de 2023 estejam escondidos nos arredores de Deir Al-Balah. Isso pode intensificar ainda mais as ações militares na área — comprometendo vidas civis e aumentando o nível de destruição.
A crise em Gaza, segundo especialistas em direitos humanos ouvidos pela CNN e pela DW, é um desastre com múltiplas frentes: fome, sede, deslocamento forçado, ataques a civis e destruição de infraestrutura básica. “Estamos assistindo ao esfacelamento de uma população inteira diante dos nossos olhos. E o mundo precisa reagir com mais do que palavras”, alertou um representante do Conselho de Direitos Humanos da ONU.