Gaza levará uma década para se recuperar de explosivos e escombros, aponta ONU

Desde o início do cessar-fogo em Gaza, em 19 de janeiro de 2025, a ajuda humanitária tem chegado em maior volume, trazendo alívio para a população. No entanto, um novo relatório da ONU revela um desafio gigantesco: a remoção de explosivos e escombros, um processo que pode levar até 10 anos.

Uma análise das Nações Unidas indica que milhões de munições não detonadas estão espalhadas sob 42 milhões de toneladas de destroços, resultado da intensa destruição de edifícios, estradas e outras construções. A situação é agravada pela presença de amianto e outros contaminantes perigosos nesses escombros. Especialistas da ONU alertam que a resolução completa desse problema depende crucialmente de apoio financeiro internacional.

Apesar desse cenário complexo, a ajuda humanitária está surtindo efeito. O aumento na entrada de caminhões e o acesso a combustível permitiram alimentar cerca de 1 milhão de pessoas. Cozinhas comunitárias e padarias estão sendo reabertas, e a distribuição de cestas básicas foi retomada no centro e sul de Gaza. O combustível também viabilizou o funcionamento de poços de água, centrais de dessalinização e bombas de esgoto, além de impulsionar o início de reparos em estradas e infraestruturas hídricas.

O Escritório da ONU de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) destaca que, além da remoção de explosivos e escombros, a recuperação de corpos e o combate à contaminação por material bélico explosivo são prioridades. Essas ações são consideradas essenciais para garantir a segurança da população, o fluxo de assistência e o restabelecimento de serviços essenciais. Jonathan Whittall, chefe do OCHA no Território Palestino Ocupado, enfatizou a necessidade de um cessar-fogo duradouro, afirmando que o sucesso do acordo será medido pelo “fim permanente da morte, destruição e privação”.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) relatou que crianças e famílias que retornam às suas casas no norte de Gaza encontram um cenário de “destruição total e colapso das infraestruturas”. O OCHA também ressalta o trauma da separação forçada de crianças e famílias e a necessidade de continuar localizando menores desacompanhados.

O cessar-fogo, mediado pelo Egito, Catar e Estados Unidos, prevê em sua primeira fase de 42 dias a libertação gradual de reféns israelenses em troca da soltura de detidos palestinos, a retirada das forças israelenses dos centros populacionais (com exceção de zonas tampão) e a expansão da entrega de ajuda. Estima-se que 94 israelenses e cidadãos estrangeiros continuem prisioneiros em Gaza, incluindo reféns declarados mortos cujos corpos ainda estão retidos. Segundo fontes israelenses, há atualmente 10.221 palestinos presos, incluindo condenados, presos preventivos, detidos administrativos e detidos como “combatentes ilegais”. Esses números não incluem os palestinos de Gaza detidos desde 7 de outubro de 2023.

Apesar dos avanços na ajuda humanitária, Gaza enfrenta um longo e árduo caminho para a recuperação, com a remoção de explosivos e escombros representando um desafio de longo prazo que exigirá um esforço internacional coordenado.