Especialista alerta para os perigos das redes elétricas aéreas

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Enterramento dos cabos de energia garante mais segurança, menor impacto ambiental, maior confiabilidade e menor exposição a interferências, como raios e quedas de árvores.

O emaranhado de fios e cabos que marca ruas e avenidas do país não é apenas uma visão desagradável e poluída, como também representa um perigo para a população. Cabos de energia instalados de forma aérea estão mais expostos às intempéries e a qualquer tipo de interferência humana. Para se ter uma ideia, em 2018 foram registrados 891 acidentes envolvendo a rede elétrica, com 271 vítimas fatais. Para o engenheiro eletricista Daniel Bento, executivo da Baur do Brasil, este é um retrato que merece a atenção de todos os agentes do setor elétrico.

Segundo a Abradee (Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica), os acidentes acontecem, em sua maioria, na construção civil ou manutenção predial, com cabo energizado ao solo e operação de máquinas agrícolas. Acidentes envolvendo pipas, ligações clandestinas e decorrentes de intempéries também são comuns. “A falta de informação da população sobre os riscos oferecidos pela eletricidade somada à característica da nossa rede de distribuição, majoritariamente aérea, com fios e cabos expostos e de fácil acesso contribui para a construção desse quadro”, avalia Bento.

A expansão das redes subterrâneas depende, no entanto, de esforços de uma série de agentes do setor elétrico, especialmente, de leis e regulamentos. Segundo o especialista, há alguns projetos de lei tramitando há anos (como o PL 789/2011 e o PL 6743/2013), mas a questão não parece prioritária perante o Governo. “Possivelmente, a baixa prioridade dos políticos sobre os projetos de enterramento de rede deve estar relacionada à falta de conhecimento de que este tema está diretamente ligado à segurança da população, tendo em vista que todo ano, centenas de pessoas morrem devido ao contato com a rede elétrica aérea. Sem contar as horas de interrupção de energia a que está submetido o brasileiro por conta de manutenções em decorrência da queda de árvores e de outras situações que exigem o desligamento da rede”, afirma.

As vantagens das redes subterrâneas

Atualmente, a quantidade de rede de distribuição subterrânea no país não ultrapassa os 2%, sendo reflexo da falta de um modelo regulatório específico que incentive investimentos neste modelo de instalação. Na comparação com o sistema aéreo, as redes subterrâneas apresentam grandes vantagens. Neste modelo, a manutenção é feita de forma preventiva, ou seja, o sistema é constantemente monitorado. Por outro lado, na rede aérea, onde predomina a manutenção corretiva, geralmente, a troca ou o reparo do equipamento só ocorre diante de um evento, como queima de equipamentos, dano por queda de árvores e tempestades, provocando desligamentos. A consequência disso são os altos índices de DEC (duração do tempo em que, em média, uma unidade consumidora fica sem energia) e FEC (frequência com que isso acontece). A título de comparação, enquanto na Alemanha, que tem 80% da sua rede elétrica enterrada, o DEC é de 25 minutos por ano, no Brasil, este índice é de 13 horas na média. Na França, o FEC é 0,3 e aqui fica por volta de 8 interrupções por consumidor.

É fato que enterrar os cabos exige um investimento maior do que demanda a rede aérea, no entanto, há que se pensar na relação custo/benefício e nas vantagens obtidas no curto, médio e longo prazos. “Países ou cidades se beneficiam com o aumento do turismo, e a concessionária local e a prefeitura ganham com redução de manutenção na rede, diminuição de acidentes envolvendo pipas e roubo de cabos e outros equipamentos, além da estética e da segurança para toda a população”, analisa o engenheiro Daniel Bento.

 “As redes subterrâneas apresentam melhor confiabilidade, uma vez que não estão sujeitas aos efeitos do clima. Esta confiabilidade resulta em conforto para as residências e competitividade para a indústria, tendo em vista que mesmo pequenas interrupções podem provocar grandes impactos na produção industrial”, conclui Bento.