
Mais de 250 mil pessoas se reúnem na Praça São Pedro para homenagear o “Papa do Povo” em uma cerimônia marcada por emoção, tradições e homenagens simples — como ele queria.
Uma manhã de abril como nenhuma outra
O céu de Roma, em 26 de abril de 2025, parecia também carregar o peso da despedida: cinzento, silencioso, quase em luto. Foi sob esse manto plúmbeo que o mundo deu seu último adeus ao Papa Francisco, o primeiro pontífice jesuíta e latino-americano da história da Igreja. Aos 88 anos, Jorge Mario Bergoglio foi sepultado após uma cerimônia tocante e surpreendentemente simples, como ele havia expressamente desejado.
De líderes mundiais a fiéis comuns, mais de 250 mil pessoas lotaram a Praça São Pedro, vindas de todas as partes do planeta para testemunhar o fim de uma era — e o início da eterna lembrança.
Um ritual cheio de símbolos e emoções
A celebração final aconteceu no átrio da Basílica de São Pedro, palco de momentos históricos que agora recebeu mais um: o adeus ao Papa Francisco. A missa das Exéquias, como é chamada a celebração fúnebre oficial, começou pontualmente às 10h (horário de Roma) e foi presidida pelo cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício — um gesto que segue a tradição quando o papa emérito ou falecido é homenageado.
Segundo o Vatican News, a cerimônia manteve uma atmosfera discreta e profundamente simbólica. Em vez de ouro e ostentação, havia flores brancas simples, corais entoando hinos antigos e um caixão de cipreste — o mesmo material escolhido por João Paulo II — repousando sob a sombra da basílica.
O La Repubblica descreveu o momento em que o caixão foi baixado para a cripta como “silenciosamente ensurdecedor”, num daqueles silêncios que falam mais alto que qualquer sermão.
Entre os presentes, os presidentes Lula, Donald Trump e Emmanuel Macron, o ex-presidente dos EUA, Joe Biden, e até líderes de religiões não cristãs, refletindo o alcance universal de Francisco. O Guardian ressaltou: “Ele não foi apenas o Papa dos católicos; foi o Papa do mundo.”

O fechamento do caixão: um ritual de memória e esperança
Antes mesmo da cerimônia pública, um momento íntimo e carregado de significado marcou a despedida: o fechamento do caixão, realizado ontem, 25 de abril. De acordo com o Vatican News, o corpo de Francisco foi depositado dentro de um caixão simples.
Dentro do caixão, foi colocado o Rogito, um pergaminho solene que narra a vida e o pontificado de Francisco. Descrito como “peregrino da esperança e companheiro de caminho”, o texto é uma cápsula do tempo, garantindo que sua história permaneça viva para as gerações futuras. Também foram colocadas moedas e medalhas cunhadas durante o pontificado e o pálio — faixa de lã branca símbolo da autoridade papal.
Esse ritual, quase secreto, é um lembrete de que, para além da grandeza pública, há a humanidade silenciosa dos que partem — e dos que ficam.
Um Papa que mudou a história
O Papa Francisco será lembrado não apenas pelos gestos simbólicos — como lavar os pés de imigrantes e presidiários — mas também pelas mudanças profundas que promoveu. Segundo análise da BBC, ele foi o arquiteto de um novo modelo de Igreja: mais inclusiva, mais pobre e mais próxima dos marginalizados.
É impossível esquecer, por exemplo, o momento em que, em plena pandemia, sozinho sob a chuva na Praça São Pedro vazia, ele rezou por toda a humanidade. Ou quando, com um sorriso tímido, se apresentou da varanda da Basílica em 2013, com um simples: “Buona sera.”
De acordo com o UOL, mais de 40% dos católicos latino-americanos afirmam que sua fé se fortaleceu sob seu pontificado — uma marca que poucos líderes religiosos alcançam.
Histórias que tocaram corações
Entre tantas homenagens oficiais, foram os gestos espontâneos que roubaram a cena. Como a história de Marta Rossi, uma professora argentina de 52 anos, que atravessou o Atlântico pela primeira vez na vida só para segurar uma vela na Praça São Pedro. “Ele me ensinou que Deus fala em qualquer língua, até na nossa gíria portenha”, contou ao O Globo, entre lágrimas e risos.
Outro momento de arrancar suspiros foi o da pequena Giulia, 8 anos, que segurava um cartaz dizendo: “Obrigado, Papa que sorri.”
Esses são os flashes que ficarão gravados: a fé transformada em gratidão sincera, nas pequenas mãos que acenavam bandeiras brancas, nos cânticos abafados pelos lenços que enxugavam lágrimas discretas.
O adeus de Francisco — e o legado que permanece
Ao final da cerimônia, antes que o caixão fosse sepultado nas Grutas Vaticanas, um longo e emocionado aplauso ecoou pela praça. Era como se o mundo inteiro quisesse, num último gesto, garantir que o Papa Francisco — aquele que preferia sapatos ortopédicos a chinelos vermelhos — jamais seria esquecido.
Seu legado, porém, não repousa no mármore nem nas encíclicas. Como bem disse o Guardian, ele está “nos abraços oferecidos, nos muros derrubados e nas pontes construídas.”
E como Francisco uma vez brincou: “Prefiro deixar a marca de um sorriso do que de uma assinatura.”
Hoje, no Vaticano, entre lágrimas e sorrisos, foi exatamente isso que ele fez.
Assista abaixo a missa de despedida do Papa Francisco