COP30 em Belém abre com apelo global por ação imediata e financiamento climático trilionário

Belém respira expectativa e responsabilidade. À beira do maior bioma tropical do planeta, líderes mundiais se reúnem sob a sombra de um futuro que pede pressa.
A COP30 começa nesta segunda-feira (10) com a missão de transformar promessas em políticas concretas. O desafio é frear a escalada do aquecimento global e garantir que os compromissos assumidos desde o Acordo de Paris sejam realmente cumpridos. Para isso, negociadores buscam selar um novo pacto financeiro capaz de mobilizar ao menos US$ 1,3 trilhão por ano em ações climáticas até 2035.

Uma cúpula decisiva às margens da Amazônia

Milhares de diplomatas, especialistas e representantes da sociedade civil desembarcam em Belém, no Pará, para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). A escolha da cidade carrega um simbolismo potente: a Amazônia é, ao mesmo tempo, um dos maiores sumidouros de carbono do planeta e uma região ameaçada pelo desmatamento, avanço do garimpo e eventos climáticos extremos.

Depois de décadas de negociações em cúpulas internacionais, a temperatura média global continua subindo. Painéis científicos alertam que o planeta está prestes a ultrapassar temporariamente o limite de aquecimento de 1,5°C, considerado o teto seguro para evitar danos irreversíveis. A superação ainda pode ser revertida, mas apenas se governos acelerarem cortes de emissões, ampliarem a adaptação e destravarem o financiamento climático em larga escala.

Durante a abertura, o secretário-geral da ONU, António Guterres, foi direto:
“Não é mais hora de discursos. É hora de implementação, implementação e implementação.”

O “mutirão climático” do Brasil

Sob a presidência brasileira, a COP30 é organizada em torno de uma agenda de ação composta por 30 objetivos. Cada um deles será impulsionado por grupos específicos responsáveis por mobilizar governos, empresas, comunidades tradicionais e sociedade civil. O esforço foi batizado de mutirão, evocando a ideia de tarefa coletiva e reforçando a liderança indígena e local na proteção da floresta.

A proposta é que todos os setores – do campo às metrópoles, das aldeias aos conselhos corporativos – contribuam para reduzir emissões, melhorar a governança ambiental e promover uma transição justa para economias de baixo carbono.

O centro da negociação: financiamento climático

Para que a transição seja viável, o financiamento climático precisa crescer drasticamente. Hoje, muitos países ainda dependem de fontes caras de crédito e não conseguem financiar projetos de adaptação, reflorestamento e mitigação.

O Roteiro Baku-Belém para US$ 1,3 trilhão propõe cinco eixos principais:

  • Fortalecer fundos multilaterais de clima.
  • Criar mecanismos fiscais para tributar atividades poluentes.
  • Converter dívidas soberanas em investimentos ambientais.
  • Expandir parcerias tecnológicas para países vulneráveis.
  • Remover barreiras jurídicas que permitem que empresas processem governos por políticas climáticas.

Atualmente, disputas desse tipo já custaram aos Estados cerca de US$ 83 bilhões, o que restringe a capacidade de ação de países em desenvolvimento.

NDCs insuficientes e metas urgentes

Outro foco central são as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) – planos nacionais de redução de emissões. Para limitar o aquecimento abaixo de 1,5°C, o mundo precisaria cortar 60% das emissões até 2030, mas as metas vigentes projetam apenas 10% de redução.

Dos 196 países signatários, pouco mais de um terço atualizou seus compromissos. A expectativa é que a COP30 pressione por metas mais rigorosas, acompanhadas de mecanismos transparentes de monitoramento e indicadores globais de adaptação.

Adaptação e transição justa como pilares

Com eventos extremos se intensificando – secas prolongadas, enchentes recordes, ondas de calor que tornam regiões inteiras quase inabitáveis – a adaptação deixa de ser um tema secundário. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estima que o financiamento para adaptação precisa aumentar 12 vezes até 2035.

A COP30 também deve avançar no Programa de Trabalho para uma Transição Justa, buscando garantir que trabalhadores, comunidades tradicionais e países vulneráveis não sejam deixados para trás. Organizações da sociedade civil defendem a criação do Mecanismo de Ação de Belém, que coordenaria projetos e ampliaria transferência tecnológica.

O que está em jogo

Três décadas após o início das negociações globais, o arcabouço climático já evitou um cenário de aquecimento acima de 4°C. Contudo, o tempo disponível para manter o aquecimento dentro de limites seguros está se esgotando.

Belém recebe o mundo com a floresta como testemunha e alerta.
O resultado desta conferência não determinará apenas políticas – definirá futuros possíveis.

A COP30 segue até 21 de novembro.