
A morte da cantora Preta Gil, aos 49 anos, vítima de um câncer de intestino, acendeu o alerta sobre uma doença silenciosa, porém devastadora, que já ocupa o 3º lugar entre os tipos de câncer mais comuns no Brasil. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a cada ano são registrados cerca de 45 mil novos casos de câncer colorretal no país — atrás apenas dos cânceres de mama e próstata.
A tragédia pessoal da artista expôs um problema de saúde pública que vai além dos fatores de risco tradicionais, como idade e histórico familiar: o aumento acelerado de casos entre adultos jovens, muitas vezes sem histórico prévio ou sintomas evidentes.
A face silenciosa de um inimigo agressivo
O câncer de intestino, também chamado de colorretal, afeta o cólon (intestino grosso) e o reto. É muitas vezes silencioso, com sintomas que podem facilmente ser confundidos com problemas digestivos comuns — como dor abdominal, diarreia, sangue nas fezes, fraqueza e perda de peso inexplicada. Justamente por isso, o diagnóstico costuma ser tardio.
“O câncer colorretal é traiçoeiro porque pode evoluir por anos sem causar nenhum sintoma específico”, afirma o oncologista Paulo Hoff, diretor do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), em entrevista à Folha de S.Paulo. “Isso faz com que grande parte dos casos seja descoberta em estágios avançados, o que compromete o prognóstico.”
Casos em jovens preocupam especialistas
Estudos recentes publicados pela BBC News e pelo The Guardian indicam um crescimento expressivo de câncer colorretal entre pessoas com menos de 50 anos em países como Estados Unidos, Reino Unido e Japão — tendência que também se observa no Brasil. Segundo a Sociedade Americana de Câncer (ACS), o número de adultos jovens diagnosticados com câncer de intestino dobrou nas últimas três décadas nos EUA.
A Agência Brasil destaca que 35% dos casos no Brasil atingem pessoas entre 40 e 50 anos, grupo que tradicionalmente não era foco das campanhas de rastreamento. A médica oncologista Clarissa Mathias, presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais, alerta que “há uma necessidade urgente de rever os protocolos de rastreio e reduzir a idade de início da colonoscopia preventiva”.
Fatores de risco e prevenção
Entre os principais fatores de risco estão má alimentação, sedentarismo, obesidade, tabagismo, consumo excessivo de carne vermelha e processados, além de histórico familiar. Em contrapartida, uma dieta rica em fibras, frutas, vegetais e grãos integrais, aliada à prática regular de atividade física, pode reduzir significativamente o risco da doença.
A Deutsche Welle aponta que mudanças no estilo de vida moderno, com dietas industrializadas e aumento do estresse, também são apontadas como catalisadores do crescimento da doença entre adultos jovens.
No Brasil, o SUS oferece exames gratuitos de rastreio, como a pesquisa de sangue oculto nas fezes e colonoscopia, especialmente para pessoas acima de 50 anos ou com histórico familiar. Especialistas defendem a ampliação do acesso e da comunicação pública sobre esses serviços.
Preta Gil e o impacto na sociedade
O diagnóstico de Preta Gil foi revelado em janeiro de 2023. Desde então, ela se tornou uma voz ativa na conscientização sobre o câncer colorretal, compartilhando o tratamento com seus seguidores. Sua morte gerou grande comoção nacional e reabriu o debate sobre acesso à saúde e detecção precoce.
A CNN Brasil destacou que, após a repercussão do caso, houve um aumento significativo na busca por informações sobre o câncer de intestino e na procura por exames preventivos. O Ministério da Saúde confirmou que estuda antecipar a faixa etária recomendada para rastreamento.
Avanços e desafios no tratamento
O tratamento do câncer colorretal pode incluir cirurgia, quimioterapia, radioterapia e terapias-alvo, dependendo do estágio da doença. No Brasil, os maiores desafios ainda estão no diagnóstico precoce e no acesso a tratamentos de ponta, especialmente fora dos grandes centros urbanos.
De acordo com a Agência Lusa, países europeus que implementaram programas de rastreio populacional desde os 40 anos observaram redução de até 40% na mortalidade por esse tipo de câncer.
Análise e próximos passos
A morte de Preta Gil se soma a uma longa lista de perdas por uma doença que, se detectada a tempo, tem até 90% de chances de cura. O episódio reforça a urgência de campanhas de conscientização mais amplas, exames acessíveis, mudanças nos hábitos alimentares da população e, sobretudo, da adoção de protocolos mais modernos e inclusivos de prevenção e diagnóstico precoce.
Enquanto isso, especialistas alertam: sintomas persistentes no sistema digestivo não devem ser ignorados. A prevenção ainda é a arma mais eficaz contra o câncer de intestino.