Calor extremo aquece lagos da Amazônia acima de 40°C e ameaça peixes, comunidades ribeirinhas e equilíbrio climático

Nas águas profundas da Amazônia, algo que antes parecia impossível está acontecendo. Lagos que sempre foram fonte de vida começam a ferver como banhos termais, expulsando peixes, desequilibrando o ecossistema e alarmando populações tradicionais. A floresta, que regula o clima do planeta, está enviando um alerta urgente — e silencioso. Agora, cientistas e moradores se encontram diante de um desafio que vai muito além do calor: salvar o maior bioma tropical do mundo de um colapso em curso.

A temperatura da água em diversos lagos amazônicos tem ultrapassado 39°C — em alguns pontos chegando a 41°C — níveis mais próximos de uma banheira quente do que de um ecossistema natural. De acordo com pesquisadores citados pelo The Guardian, águas nesse patamar causam estresse térmico grave em peixes, reduzindo oxigenação e levando à morte em massa, como foi observado durante eventos de seca severa nos últimos anos. Esse fenômeno está diretamente associado ao agravamento da crise climática global, que eleva as temperaturas do ar, altera padrões de chuva e intensifica períodos de estiagem, particularmente na Bacia Amazônica.

Além disso, a redução drástica do volume dos rios — impulsionada pela combinação de El Niño e desmatamento acelerado — contribui para o aquecimento das águas. Com menor profundidade, os lagos absorvem mais calor do sol. Isso cria um ciclo perigoso: quanto mais quente, mais rápida a evaporação; quanto mais raso, mais quente — até que a vida começa a desaparecer.

Impacto direto nas comunidades tradicionais
Para ribeirinhos, pescadores e povos indígenas, o impacto é imediato. A pesca, principal fonte de proteína e sustento, está em queda. Peixes emblemáticos como o tambaqui e o pirarucu sofrem com o calor excessivo e a baixa oxigenação. Famílias relatam necessidade de percorrer distâncias maiores ou adaptar sua alimentação.

Além disso, a água quente favorece a proliferação de algas e micro-organismos que podem provocar doenças de pele, gastrointestinais e respiratórias. Em algumas regiões, segundo relatos compilados por veículos como BBC e Al Jazeera, moradores passaram a evitar o banho em certos trechos por causa do cheiro e da coloração alterada da água.

Amazônia como reguladora climática global
A situação não ameaça apenas quem vive na região. A Amazônia desempenha papel crucial na estabilidade climática do planeta, atuando como gigantesca bomba de umidade, responsável pela formação de chuvas em boa parte da América do Sul. O aquecimento das águas e a degradação florestal reduzem a evapotranspiração, comprometendo a formação de nuvens e resultando em secas mais longas e severas.

Pesquisadores têm alertado para o risco de a floresta se aproximar de um ponto de não retorno — quando perde sua capacidade de regeneração e passa a se transformar em uma savana seca. Caso isso aconteça, o mundo enfrentará elevação adicional nas temperaturas globais e agravamento de eventos climáticos extremos.

Respostas e soluções possíveis
Segundo cientistas ouvidos por ONU News e DW, ainda é possível reverter parte dos danos, mas a janela de oportunidade está se fechando rapidamente. Entre as ações consideradas urgentes estão:

  • Redução imediata do desmatamento e das queimadas;
  • Reflorestamento em áreas degradadas;
  • Proteção territorial de povos indígenas — principais guardiões da floresta;
  • Fortalecimento de programas de vigilância climática;
  • Transição energética e redução do uso de combustíveis fósseis em escala global.

Governos, empresas e sociedade civil terão de agir em conjunto — e rápido. O calor nos lagos da Amazônia não é um evento isolado: é um termômetro do futuro do planeta.