A COP30, que começa hoje, em Belém, no Pará, chega em um momento decisivo para o futuro da política climática internacional. A ausência do governo dos Estados Unidos, maior emissor histórico de CO₂, amplia incertezas, mas também abre espaço para novas alianças globais. Especialistas apostam no protagonismo do Sul Global, na consolidação de transições energéticas justas e no fortalecimento do multilateralismo para conter retrocessos climáticos.
Um encontro que testa a força da cooperação mundial
Belém se transforma, neste mês de novembro, no epicentro do debate climático internacional. A COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas, ocorre em um cenário de disputas políticas, crises ambientais e desafios históricos para manter o multilateralismo vivo.
Dessa vez, a ausência oficial do governo dos Estados Unidos chama atenção. Sob o negacionismo climático do presidente Donald Trump, que voltou a retirar o país do Acordo de Paris e classificou o aquecimento global como “o maior golpe já perpetrado contra o mundo”, os EUA chegam à conferência sem uma delegação federal.
Essa lacuna simbólica e diplomática pressiona o restante das nações a demonstrar união e compromisso — ou a revelar fragilidades internas de um sistema de governança climática que já enfrenta resistência de grupos econômicos e interesses fósseis.
Pressões e oportunidades na arena internacional
Para Laurence Tubiana, uma das arquitetas do Acordo de Paris, o momento exige firmeza. Ela alerta para uma ofensiva sem precedentes contra políticas de clima. “Nunca vi tanta agressividade contra a política climática quanto agora, por causa dos EUA”, disse durante encontro preparatório da conferência.
Apesar disso, Tubiana destaca movimentos positivos, especialmente da União Europeia e do Brasil. Segundo ela, a COP30 pode ser decisiva para integrar, de forma prática, financiamento climático, geração de empregos verdes e transições energéticas justas — pilares que podem redefinir o modelo de desenvolvimento global.
Sul Global assume o protagonismo
Para Li Shuo, diretor do Centro de Clima da China na Asia Society, a ausência dos Estados Unidos também abre espaço para novas lideranças. Ele afirma que países do Sul Global — como Brasil, Índia e nações africanas — encaram a descarbonização não como custo, mas como oportunidade de crescimento.
“A COP30 é um momento de graduação. É quando muitos países mostram que desenvolvimento econômico e ação climática podem caminhar juntos”, afirma.
China, União Europeia, Brasil e Índia devem formar a espinha dorsal de um novo equilíbrio climático global, capaz de resistir a pressões políticas e econômicas contrárias.
Mobilização americana segue viva, apesar do governo
Mesmo sem o governo federal, cidades, estados e organizações dos Estados Unidos confirmam presença. Mais de 100 líderes subnacionais devem participar da conferência.
“Não permitiremos que nosso país fique paralisado por quem bloqueia o progresso”, declarou Gina McCarthy, ex-diretora da Agência de Proteção Ambiental dos EUA.
Pesquisas indicam que, mesmo com o retrocesso atual, os EUA ainda podem reduzir suas emissões em até 56% até 2035, caso o compromisso federal seja retomado após 2028 — reforçando o papel estratégico da sociedade civil no processo.
Belém como símbolo: floresta, resistência e futuro
A escolha de Belém coloca a Amazônia no centro das decisões climáticas. A cidade se torna palco para discutir não apenas metas globais, mas também a vida de comunidades que convivem diariamente com desmatamento, queimadas, mudanças de regime de chuvas e disputa por território.
Mais que uma conferência, a COP30 representa um teste: o mundo será capaz de cooperar em meio a tensões políticas e econômicas crescentes? Ou o avanço da crise climática continuará a superar a capacidade de resposta global?
O resultado das negociações no Pará pode definir o rumo da ação climática pelos próximos anos.
UM NEGACIONISTA NA CASA BRANCA
Os Estados Unidos não enviarão uma delegação oficial do governo federal à COP30 porque o presidente Donald Trump voltou a retirar o país do Acordo de Paris e rompeu com compromissos internacionais sobre clima. Para a atual gestão, políticas ambientais e metas de redução de emissões são vistas como entraves econômicos. Com isso, a Casa Branca optou por não participar ativamente das negociações globais, deixando o país fora de uma das principais mesas decisórias do planeta sobre o futuro climático. Ainda assim, estados, cidades, empresas e organizações da sociedade civil americanas continuarão presentes, tentando manter alguma forma de engajamento.
Trump é considerado um negacionista climático porque, ao longo de sua carreira política, repetiu diversas vezes que o aquecimento global seria uma “farsa” ou “exagero” criado por interesses econômicos e políticos. Em seu governo, ele desmontou regulações ambientais, incentivou a produção de combustíveis fósseis e desacreditou órgãos e pesquisas científicas. Essa postura contraria o consenso de cientistas do mundo inteiro, que apontam que as mudanças climáticas são reais, aceleradas pela ação humana e já causam impactos severos em ecossistemas e populações. Assim, sua política representa um retrocesso no combate à crise climática global.
