A Estação Espacial Internacional (ISS), um dos maiores símbolos da cooperação científica global, está prestes a se aposentar. Após mais de duas décadas em órbita, a estrutura começa a apresentar sinais de envelhecimento. Os sistemas de suporte à vida, a eletrônica e os módulos de metal já ultrapassaram o limite de vida útil planejado. O custo de manutenção cresce ano após ano, e o risco operacional também.
Quando chegar a hora, a ISS será deliberadamente direcionada de volta à Terra. Parte da estação queimará na atmosfera e o restante cairá em uma região remota do Oceano Pacífico, conhecida como “Ponto Nemo” — o local mais isolado do planeta.
Por que a ISS será desativada
Há três motivos principais: desgaste físico, custo de operação e obsolescência tecnológica. Grande parte dos módulos foi construída entre os anos 1990 e 2000 e já não atende aos padrões de eficiência e segurança atuais. Manter o funcionamento da estação exige cada vez mais missões de reparo, transporte de carga e investimentos em tecnologia ultrapassada.
Além disso, a NASA quer liberar recursos para missões mais ambiciosas, como o programa Artemis — que pretende levar humanos de volta à Lua — e futuros projetos com destino a Marte.
O novo modelo: estações orbitais comerciais
Em vez de construir uma nova estação, a NASA aposta em um modelo diferente: alugar espaço em estações operadas por empresas privadas. Nesse formato, a agência se torna cliente de estruturas mantidas comercialmente, pagando apenas pelos serviços que utilizar.
O conceito segue a mesma lógica dos contratos atuais com empresas como SpaceX e Boeing, que já transportam cargas e astronautas para a ISS. Agora, a ideia é expandir esse modelo para toda a infraestrutura orbital.
As empresas que vão assumir o protagonismo
Três companhias lideram a corrida por essa nova era espacial:
- Axiom Space: já desenvolve módulos que, inicialmente, serão acoplados à ISS e depois formarão uma estação independente.
- Blue Origin: trabalha em parceria com outras empresas no projeto Orbital Reef, que funcionará como um parque empresarial no espaço, voltado para pesquisa, turismo e indústria.
- Voyager Space: desenvolve a Starlab, uma estação compacta e versátil, projetada para receber missões científicas e comerciais.
Há ainda startups menores, como a Vast, que planejam lançar módulos autônomos capazes de operar em microgravidade.
Benefícios da mudança
O novo modelo promete reduzir custos para a NASA, estimular o mercado espacial privado e modernizar as operações em órbita. As estações comerciais poderão ser atualizadas com mais frequência, usar tecnologias recentes e atender diferentes tipos de clientes — de governos a empresas e universidades.
Essa abertura também impulsiona o turismo espacial e a pesquisa de novos materiais produzidos em microgravidade, além de fortalecer a economia da chamada “órbita baixa da Terra”, região onde a ISS está posicionada.
Desafios e riscos
A transição, porém, traz desafios. O cronograma é apertado: a aposentadoria da ISS está prevista para 2030, e ainda há incerteza sobre quando as novas estações estarão totalmente prontas. Outro ponto é o modelo econômico — construir e operar uma estação espacial é caro, e ainda não há garantia de que o mercado comercial em órbita seja sustentável a longo prazo.
Também pesam as exigências de segurança, a necessidade de regulação internacional e a responsabilidade de garantir que os novos projetos mantenham o mesmo padrão de confiabilidade da ISS.
O que vem pela frente
Nos próximos anos, a NASA continuará financiando o desenvolvimento dessas estações comerciais, enquanto mantém a ISS ativa. A meta é realizar uma transição sem interrupções na presença humana em órbita. Quando as novas plataformas estiverem operacionais, a agência se tornará oficialmente uma cliente, comprando tempo e espaço para experimentos e missões.
A aposentadoria da Estação Espacial Internacional não representa o fim da exploração humana no espaço — mas o início de uma nova era. A NASA passa de construtora a cliente, abrindo espaço para uma economia orbital mais ampla e dinâmica. Se tudo sair conforme o planejado, a presença humana na órbita baixa será permanente, mais eficiente e acessível a parceiros do mundo todo. A contagem regressiva já começou.
