União reconhece Cais do Valongo como patrimônio histórico-cultural afro-brasileiro

Lei sancionada neste 12 de setembro de 2025 define diretrizes para proteção do sítio arqueológico, preservação da memória da escravidão e incentivo ao turismo cultural.

O sítio arqueológico do Cais do Valongo, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, foi reconhecido como patrimônio histórico-cultural afro-brasileiro essencial à formação da identidade nacional. A sanção da Lei nº 15.203/2025, publicada no Diário Oficial da União em 12 de setembro, oficializa esse reconhecimento.

A norma foi assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em conjunto com os ministros das pastas de Cidades, Cultura, Direitos Humanos, Igualdade Racial, Relações Exteriores, Trabalho e Turismo.

Contexto histórico e significado

  • O Cais do Valongo foi construído em 1811 para centralizar o desembarque de africanos escravizados, que antes ocorria em diferentes pontos da cidade.
  • Entre 1811 e 1831, estima-se que mais de um milhão de pessoas escravizadas tenham passado pelo local.
  • Após a proibição do tráfico negreiro internacional em 1831, o cais deixou de ser usado para esse fim.

Reconhecimentos anteriores e descobertas

  • O local foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 2013.
  • Em 2017, a UNESCO reconheceu o Cais do Valongo como Patrimônio Mundial da Humanidade.
  • A redescoberta das estruturas ocorreu em 2011, durante as obras de revitalização da zona portuária do Rio.

O que a nova lei estabelece

A Lei nº 15.203/2025 traz dispositivos específicos:

  1. Proteção e conservação do cais e de imóveis de valor histórico na região.
  2. Promoção da história da diáspora africana, com integração do Cais em circuitos culturais e turísticos.
  3. Respeito às manifestações culturais de matriz africana e proteção de bens religiosos ligados a essas tradições.
  4. Consultas públicas com entidades ligadas à população negra, além da definição de fontes de financiamento nacionais e internacionais para preservação.

Importância simbólica

O Cais do Valongo é considerado o maior porto de desembarque de africanos escravizados das Américas. Ele representa um marco da escravidão transatlântica, da resistência africana e da presença afrodescendente na história do Brasil. Localizado na região conhecida como Pequena África, o espaço reúne memórias ligadas ao samba, à capoeira e às religiões de matriz africana.

Desafios e perspectivas

Apesar do reconhecimento nacional e internacional, o Cais do Valongo enfrenta problemas de manutenção, alagamentos e necessidade de melhor estrutura para visitação. A lei sancionada busca criar mecanismos de financiamento e definir obrigações de conservação, mas sua efetividade dependerá da implementação prática e do envolvimento da sociedade civil.

O novo status legal do Cais do Valongo reforça compromissos jurídicos, culturais e históricos do Estado brasileiro com a memória da escravidão e das populações negras. O desafio agora é transformar a lei em ações concretas de preservação, educação e valorização da herança afro-brasileira.