
Um vídeo de vigilância registrado esta semana em Natal (RN) escancarou, mais uma vez, a brutalidade da violência contra a mulher no Brasil. A vítima, Juliana Garcia, de 35 anos, foi agredida com mais de 60 socos dentro de um elevador pelo então namorado, o ex-jogador de basquete Igor Cabral. O espancamento ocorreu após uma discussão motivada por ciúmes durante um churrasco entre amigos.
O agressor foi preso em flagrante e teve a prisão preventiva decretada. Ele vai responder por tentativa de feminicídio. Juliana segue hospitalizada com múltiplas fraturas no rosto e passará por cirurgia de reconstrução facial ainda nesta semana.
Relatos apontam que essa não foi a primeira agressão. Segundo a polícia, a vítima já havia sofrido episódios de violência psicológica e física — inclusive com ameaças e humilhações recorrentes.
Violência contra a mulher atinge patamares alarmantes
Casos como o de Juliana não são isolados. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública revelam que, somente em 2024, foram registrados 1.492 feminicídios no Brasil. Isso representa um aumento de 0,7% em relação ao ano anterior. A cada seis horas, uma mulher é morta por motivo de gênero no país.
Outros dados preocupantes incluem:
- 87.545 estupros registrados em 2024 – maior número da série histórica;
- 64% dos feminicídios ocorrem dentro de casa;
- 80% dos agressores são companheiros ou ex-companheiros;
- Mais de 70% dos casos acontecem na presença de filhos ou outros familiares.
A Pesquisa “Visível e Invisível”, divulgada em 2025, mostrou que 37,5% das brasileiras sofreram algum tipo de violência nos últimos 12 meses. Entre os tipos mais comuns estão insultos, humilhações, tapas, empurrões e até estrangulamentos.
Agosto Lilás: mês de enfrentamento à violência
Diante dessa realidade, o mês de agosto será novamente marcado pela campanha Agosto Lilás, uma mobilização nacional em defesa da vida das mulheres. Criada em homenagem à promulgação da Lei Maria da Penha, a campanha visa ampliar a conscientização sobre os diversos tipos de violência doméstica e incentivar denúncias.
O Ministério das Mulheres reforçará ações educativas, atendimento especializado e apoio psicológico em todo o país. A campanha também quer fortalecer o uso do Ligue 180, canal gratuito e sigiloso de denúncia, que registrou mais de 590 mil relatos de violência em 2023 — a maioria relacionados a violência psicológica e física.
Caminhos para romper o ciclo
Especialistas apontam que combater a violência contra a mulher exige mais do que leis — é necessário:
- Ampliar a rede de proteção e acolhimento, como casas abrigo e delegacias da mulher;
- Investir em educação para desconstrução de comportamentos machistas desde a infância;
- Garantir punições rápidas e rigorosas para agressores;
- Estimular denúncias e apoiar as vítimas a romperem o silêncio.
Um caso que precisa gerar mudança
O caso de Juliana Garcia é mais um retrato cruel do que muitas mulheres enfrentam diariamente, dentro de suas próprias casas e relacionamentos. Neste Agosto Lilás, o país é chamado não só a refletir, mas a agir. Porque enquanto houver silêncio, medo e impunidade, a violência continuará.
O Brasil precisa fazer de agosto não apenas um mês de cor simbólica, mas um marco efetivo de transformação na luta pela vida das mulheres.