Trump ataca ministro do STF brasileiro e assina decreto do tarifaço para pressionar o Brasil e proteger Bolsonaro: diplomacia brasileira enfrenta cerco inédito

A relação entre Brasil e Estados Unidos entrou em sua fase mais tensa desde a redemocratização. Em menos de uma semana, o governo Trump sancionou o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, sob a Lei Magnitsky, e impôs uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos EUA. O pano de fundo dessas ações, embora travestido de defesa da liberdade e da economia americana, tem motivação política direta: proteger Jair Bolsonaro de ser condenado por tentativa de golpe de Estado no Brasil.

A crise revela o uso explícito de instrumentos diplomáticos, comerciais e jurídicos como armas políticas, numa ofensiva articulada por Donald Trump com apoio direto de Eduardo Bolsonaro, que tem atuado abertamente como articulador estrangeiro contra os interesses do próprio país.

Tarifa de 50%: chantagem econômica disfarçada

Em 30 de julho, Trump assinou um decreto que eleva as tarifas sobre importações brasileiras de 10% para 50%, sob justificativa da Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA). A medida entrou em vigor dias depois e afeta diretamente setores estratégicos da economia brasileira, como agroindústria, mineração e o setor aeroespacial.

Nos bastidores, a justificativa real transparece: pressionar o Brasil a afrouxar o cerco judicial contra Jair Bolsonaro, acusado de ser o mentor intelectual e político dos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, em Brasília — uma cópia mal disfarçada da invasão do Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021, protagonizada por apoiadores de Trump.

Lei Magnitsky contra Moraes: exportação do trumpismo

A escalada começou com a inclusão de Alexandre de Moraes na lista de sanções da Global Magnitsky Act, que permite aos EUA punir estrangeiros acusados de violar direitos humanos. Segundo o Departamento do Tesouro americano, Moraes teria aprovado detenções arbitrárias e promovido censura nas redes sociais.

Na prática, a sanção congela qualquer ativo que o ministro tenha em território americano, proíbe que empresas dos EUA façam transações com ele e cancela seu visto. Essa é a primeira vez que um ministro da Suprema Corte de uma democracia consolidada é incluído na lista, usada geralmente contra ditadores, oligarcas e torturadores.

O gesto foi lido por especialistas como um recado direto do trumpismo ao Judiciário brasileiro, que hoje é o principal obstáculo institucional à impunidade de Jair Bolsonaro.

Eduardo Bolsonaro: diplomacia sequestrada

Enquanto isso, Eduardo Bolsonaro age como um operador político internacional da extrema direita, não como um deputado brasileiro. Ele comemorou as sanções contra Moraes, pediu anistia aos envolvidos no ataque de 8 de janeiro e fez articulações diretas com o núcleo duro da campanha de Trump.

Seu comportamento revela um fenômeno grave: a diplomacia paralela promovida por figuras que priorizam alianças ideológicas internacionais em detrimento da soberania nacional. Em vez de defender os interesses do Brasil, Eduardo atua como um “lobista informal” de um ex-presidente dos EUA, pressionando o próprio governo brasileiro em favor do pai.

O silêncio ruidoso de Trump

Apesar de mobilizar tarifas, sanções e decretos presidenciais, Trump evita qualquer contato direto com o governo Lula. Não respondeu a notas diplomáticas nem sinalizou disposição para diálogo. O silêncio é estratégico: ao agir por meio de sanções e tarifas, o presidente americano mantém sua retórica de “liberdade” e “defesa dos direitos civis” — enquanto interfere diretamente em decisões soberanas de outro país.

Trump teme que a eventual condenação de Bolsonaro no Brasil fortaleça argumentos jurídicos contra ele nos EUA, onde também enfrenta investigações e processos relacionados à tentativa de golpe de 2021. Proteger Bolsonaro é, no fim das contas, proteger a si mesmo.

Soberania nacional em jogo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi enfático ao repudiar as sanções e o tarifão, afirmando que “a soberania brasileira não está à venda”. O governo regulamentou a Lei de Reciprocidade Econômica, permitindo ao Brasil adotar medidas comerciais de retaliação. O Itamaraty também intensificou negociações com a Europa, China e países latino-americanos para diversificar parcerias e reduzir a dependência dos EUA.

Mais do que uma crise diplomática, o que se vê é uma disputa de narrativas e de projetos de poder globais. De um lado, o trumpismo tenta exportar seu modelo de política autoritária, intimidando cortes e protegendo aliados. De outro, o Brasil tenta sustentar sua institucionalidade democrática diante da pressão de uma superpotência liderada por um governo que vê a lei como obstáculo — e não como limite.

A crise entre Brasil e Estados Unidos é, antes de tudo, uma disputa por soberania. O uso de tarifas punitivas e sanções judiciais como forma de interferência estrangeira no Judiciário brasileiro representa um risco sem precedentes à autonomia institucional do país.

Neste contexto, resistir significa defender o direito do Brasil de julgar seus próprios crimes, proteger sua democracia e não ceder à chantagem econômica de uma potência estrangeira. A História cobrará caro de quem escolher o lado errado.