Exportações brasileiras aos EUA caíram 50% desde 2001; tarifação de Trump agrava cenário

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O Brasil perdeu metade do peso de suas exportações destinadas aos Estados Unidos entre 2001 e 2024, caindo de 24,4% para 12,2% da pauta total. No mesmo período, a China cresceu de 3,3% para 28%, tornando-se o principal destino das vendas externas brasileiras.

Em 2001 os EUA respondiam por 22,7% das importações brasileiras; em 2024 esse índice foi de 15,5%, enquanto a participação da China passou de 2,3% para 24,2% .

Perfil das exportações ao mercado americano

As exportações brasileiras aos EUA são diversas — dez produtos respondem por 57% desse total:

  • Petróleo bruto (14%)
  • Ferro e aço semiacabado (8,8%)
  • Aeronaves e peças (6,7%)
  • Café torrado (4,7%)
  • Celulose, combustíveis, sucos, máquinas e equipamentos civis também estão entre os principais itens.

Alguns produtos dependem fortemente do mercado americano, com até 86% das exportações direcionadas aos EUA — como o ferro fundido —, aeronaves (63%) e escavadeiras (53%).

Efeito da tarifa de 50% anunciada por Trump

Em carta de 9 de julho, o ex-presidente Donald Trump anunciou a aplicação de tarifa de 50% a todas as importações brasileiras nos EUA, a partir de 1º de agosto. A justificativa envolve uma suposta retaliação política contra o processo judicial de Bolsonaro..

Segundo dados de 2024, as exportações brasileiras aos EUA somaram US$ 40,4 bilhões (12% do total). Uma sobretaxa dessa magnitude compromete a competitividade de setores-chave:

  • Café: representa 16,7% das vendas ao mercado americano..
  • Suco de laranja: 60% das exportações vão aos EUA; margens estreitas podem inviabilizar importações.
  • Aeronaves (Embraer): com 63% das vendas concentradas nos EUA, segmento estará exposto.
  • Ferro, aço, máquinas e carnes: indústria siderúrgica, agronegócio e eletroeletrônicos devem sofrer retração.

Cenário político e reação brasileira

O presidente Lula qualificou a tarifa como intimidação e anunciou retaliação com base na Lei da Reciprocidade Econômica. Foi criado um comitê envolvendo exportadores e governo para formular resposta diplomática e econômica .

Analistas estimam impactos modestos no PIB (até −1,2%) e alertam que o real já sofreu, com depreciação de 2,9% e desvalorização de empresas como Embraer.

Desafios de curto prazo

A diversificação dos mercados é complexa. Lia Valls, da FGV, destaca que produtos manufacturados e ligados a multinacionais têm dificuldade para se redirecionar rapidamente e enfrentam concorrência chinesa intensa .

Segundo o comitê interministerial, não houve pedido de prorrogação, mas há esforços para mobilizar o setor privado em negociações nos EUA.

A combinação da queda histórica da relevância dos EUA no comércio com o Brasil e a aplicação de tarifas de 50% por Washington aponta para um choque econômico e político relevante, com possíveis efeitos sistêmicos na indústria, na agropecuária e nas cadeias de produção.

Lidar com esse cenário exige respostas coordenadas: diplomáticas, jurídicas e econômicas. O Brasil pode enfrentar queda na exportação, pressão sobre o real, risco de desemprego e desindustrialização acelerada.