
IPCA registra alta de 0,24%, menor desde janeiro; INCC-M avança 0,96% com pressão da mão de obra.
Em junho de 2025, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,24%, confirmando queda mensal em relação a maio (0,26%). O resultado é o mais baixo desde janeiro, quando o índice foi de 0,16%, e representa a primeira vez que a inflação de junho atinge esse patamar desde 2022, ano em que o índice mensal foi de 0,67%.
No entanto, o acumulado em 12 meses subiu para 5,35%, ante 5,32% em maio, mantendo-se acima do teto da meta definida pelo Banco Central (4,5%), representando o sexto mês consecutivo de descumprimento da meta contínua que vigora desde janeiro. O resultado também representa o primeiro “estouro” contínuo da meta mensal.
A desaceleração se deve, principalmente, ao grupo “Alimentação e bebidas”, que registrou queda de 0,18%, puxado pelos alimentos no domicílio, com destaque para ovos (-6,58%), arroz (-3,23%) e frutas (-2,22%). Em paralelo, a bandeira tarifária vermelha encareceu a energia elétrica residencial (2,96%), impactando 0,12 ponto percentual na alta mensal do IPCA. A energia elétrica acumula alta de 6,93% no semestre — o maior valor desde 2018 — e continua sendo o principal vilão no resultado acumulado do ano (2,99%).
Outros segmentos apresentaram variações menores: habitação (0,99%), vestuário (0,75%), transportes (0,27%). Já educação ficou praticamente estável (0,00%). A difusão dos preços desacelerou, com 54% dos itens com alta, ante 60% em maio — o menor percentual desde julho de 2024.
O Banco Central foi consultado e, conforme determina o sistema de metas, o presidente Gabriel Galipolo deve enviar hoje uma carta ao Conselho Monetário Nacional justificando o estouro da meta trimestraL. Após elevar a Selic ao maior patamar em quase 20 anos (15%), a autoridade monetária sinalizou manutenção na fase contracionista por um período prolongado, apesar de economistas como Kimberley Sperrfechter interpretarem que esse ajuste deve ser o último ciclo de aperto.
Custo da construção acelera com alta da mão de obra
INCC‑M registra taxa recorde em 2025 e aponta caminho dos custos do setor
O Índice Nacional de Custo da Construção – M (INCC‑M), divulgado pela FGV, registrou alta de 0,96% em junho — o maior valor do ano, ao lado de janeiro (0,71%) e abril (0,59%). O acumulado em 12 meses chegou a 7,19%, mantendo-se estável no teto verificado em maio (7,17%).
O aumento dos custos foi puxado pelo grupo “Mão de obra”, que subiu 2,12% — ante 0,72% em maio — em grande parte devido aos dissídios salariais típicos dessa época do ano. Já os custos com materiais e serviços também avançaram, embora de forma mais modesta: materiais e equipamentos subiram 0,06% e serviços 0,74%, reversão de quedas observadas no mês anterior.
A alta do INCC‑M varia conforme a cidade: houve aceleração em Brasília, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre e São Paulo, enquanto Salvador e Rio de Janeiro registraram desaceleração. A repetição da alta em mão de obra é considerada cíclica e esperada pelo setor, influenciada pelos reajustes salariais já previstos no calendário sindical .
O INCC‑M é usado por construtoras e incorporadoras para reajustar contratos, financiamentos e orçamentos, sendo monitorado também pelo setor financeiro e investidores imobiliários .
Contexto e implicações
- A queda nos alimentos pode indicar melhora no abastecimento e estabilidade das safras após aumentos recentes.
- Já a energia segue pressionando famílias, cenário que sustenta a inflação acima da meta, mesmo com recuo geral.
- No setor da construção, reajustes salariais pesam e devem ser acompanhados nos próximos meses, pois impactam diretamente o custo final de obras.
- Rumo às próximas reuniões do Copom, o BC avalia a necessidade de manter os juros elevados frente à inflação persistente.