Verdade ou versão? Como as redes sociais e a IA estão redefinindo a realidade

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                                                     Roberto Andrade 

O que vale mais? A verdade ou a versão? No mundo atual a verdade não significa nada. O fato é subvertido à vontade do narrador. E para propaga-lo bastam as redes sociais. Assim, uma mentira dita milhões de vezes se torna uma nova realidade, transmutada ao atravessar pelos bites e bits do mundo digital. Assim vivemos!

Um presidente diz que um país, claramente, agressor é na verdade o agredido e a mentira é metamorfoseada em verdade. Basta ele publicar na sua rede social e milhões de seguidores vão reproduzir a nova verdade, até que ela seja a única verdade. E em breve, milhões de pessoas estarão repetindo que é mentira que o país A é o agressor, pois todos sabem que foi B que invadiu A.

Um primeiro ministro informa que bombardeou terroristas, quando todos estão vendo que as imagens mostram centenas de crianças mortas. Não importam as imagens! Os fatos não existem! Milhões vão reproduzir a fala do primeiro ministro e as crianças mortas se transformarão, efetivamente, em terroristas. A verdade que eu preciso, eu a construo através da reprodução massiva. E, em algum lugar e em algum momento da história, ela será : terroristas usam crianças para atacar exército. E assim, as crianças “serão” terroristas e o primeiro ministro será validado.

Esses são apenas alguns exemplos da construção da verdade a partir da vontade dos poderosos.

Mas há coisa pior.

Criadores de programas de computador, criaram as Inteligências Artificiais (que não são inteligentes, muito menos artificiais). As famosas IA’s podem nos ajudar em quase tudo: escrevem, desenham, criam vídeos e uma infinidade de outras coisas. Não são mais o futuro, são o presente. Esses programas agora “criam” imagens. Basta o humano dizer o que quer e ele “cria”, inventa. Não importa que seja algo para fazer mal a alguém. Quer uma autoridade fazendo algo reprovável? Ela cria. E aí basta o humano colocar nas redes sociais e, em algum momento e em algum lugar da história, a autoridade não terá mais como dizer que aquilo é falso porque para milhares de pessoas ele, realmente, fez algo reprovável. Empresas, produtos, autoridades, eu, você agora não somos mais donos de nossos atos e histórias. Alguém pode recriá-los ao seu gosto: criar mostros ou gênios e, nada, nada mesmo, é confiável.

Esse é o mundo em que estamos, mas ele é real Neo?

Thomas A. Anderson (com pseudônimo Neo) é um personagem fictício e herói na franquia de ficção-científica Matrix, interpretado pelo ator canadense Keanu Reeves nos filmes The Matrix, The Matrix Reloaded, The Matrix Revolutions, The Matrix Resurrections e, na animação Animatrix.[1][2][3]

Neo e o mundo da Matrix
O personagem Neo vive no mundo da Matrix, um ambiente ilusório em que os seres humanos são ligados a um gigantesco sistema computacional que simula o mundo no período do século XX. Este sistema foi desenvolvido por uma inteligência artificial para manter a população humana como meio de subsistência para as máquinas - as máquinas usam a energia bioelétrica do ser humano como principal fonte de energia.
Fonte: Wikipedia

No mundo digital, fatos são moldados por narrativas e tecnologias, transformando mentiras em “verdades” e desafiando nossa capacidade de discernir o real do fictício.

Em um mundo onde a verdade parece cada vez mais relativa, as redes sociais e as inteligências artificiais (IA) estão redefinindo o que é real e o que é fabricado. A velocidade com que informações — verdadeiras ou falsas — se espalham pela internet criou um cenário em que a versão dos fatos muitas vezes supera a própria verdade. E o pior: essa distorção não é mais apenas humana. As IAs, com sua capacidade de gerar conteúdo hiper-realista, estão ampliando esse fenômeno de forma alarmante.

O Papel das IAs na Distorção da Realidade
As inteligências artificiais, embora úteis em diversas áreas, também são ferramentas poderosas para a desinformação. Elas podem gerar deepfakes — vídeos falsos que parecem reais —, criar imagens convincentes de eventos que nunca aconteceram e até produzir textos persuasivos que espalham narrativas falsas. O resultado é um cenário em que ninguém está imune a ter sua imagem ou história distorcida.

Imagine uma autoridade pública sendo acusada de um crime que nunca cometeu, com “provas” geradas por IA. Ou uma empresa sendo difamada por um vídeo falso que viraliza em questão de horas. Em um mundo onde a tecnologia permite criar realidades alternativas, a confiança na informação se torna um bem escasso.

O Que Podemos Fazer?
Diante desse cenário, a responsabilidade recai sobre todos nós. É essencial adotar uma postura crítica em relação ao que consumimos nas redes sociais. Verificar fontes, questionar narrativas e buscar informações confiáveis são passos fundamentais para combater a desinformação. Além disso, governos e empresas de tecnologia precisam trabalhar juntos para criar regulamentações e ferramentas que limitem o uso malicioso das Ias.

Enquanto isso, a linha entre verdade e versão continua a se desvanecer. Em um mundo onde fatos podem ser criados com um clique, a busca pela verdade nunca foi tão desafiadora — ou tão necessária.