Vacina de COVID-19 pode dobrar a sobrevivência em pacientes com câncer avançado

O efeito colateral ‘secreto’ que a ciência está revelando tem potencial terapêutico para melanoma e câncer de pulmão.

Enquanto a vacina contra a COVID-19 é amplamente conhecida por proteger contra infecções graves e a COVID longa, pesquisadores da Universidade da Flórida fizeram uma descoberta que está virando a cabeça de oncologistas e imunologistas: as vacinas de mRNA podem ter um impacto significativo na sobrevida de pacientes com câncer avançado.

Um estudo recente publicado na prestigiada revista Nature revelou uma intrigante ligação entre a administração das vacinas de mRNA (Pfizer ou Moderna) e uma melhor resposta ao tratamento de câncer, especificamente a imunoterapia.

O Poder da Imunoterapia e da Vacina

O estudo focou em mais de 1.000 pacientes com melanoma e câncer de pulmão em estágio avançado, que estavam sendo tratados com inibidores de checkpoint imunológico. Este tipo de imunoterapia funciona “destravando” o sistema imunológico para que ele possa reconhecer e atacar as células cancerígenas.

Os resultados foram notáveis:

  1. Duas Vezes Mais Sobrevivência: Pacientes que receberam uma vacina de mRNA contra a COVID-19 em até 100 dias após iniciar a imunoterapia tiveram mais que o dobro da probabilidade de sobreviver após três anos, em comparação com aqueles que não foram vacinados.
  2. Cinco Vezes Mais Sobrevivência em Casos Difíceis: Em pacientes cujos tumores geralmente não respondem bem à imunoterapia, a vacinação de mRNA aumentou a probabilidade de sobrevivência por mais de três anos em cinco vezes.

O Dr. Zihai Li, Ph.D., diretor fundador do Pelotonia Institute for Immuno-Oncology, explica o que pode estar acontecendo: “Este estudo abre uma possibilidade intrigante: que as vacinas de mRNA – originalmente projetadas para prevenir infecções virais – possam aumentar a eficácia da imunoterapia contra o câncer.”

“Receber uma vacina de mRNA na época da imunoterapia poderia ‘preparar’ o sistema imunológico para responder mais vigorosamente contra o câncer,” afirma o Dr. Li.

Não é uma Cura, Mas um Novo Aliado

É crucial ressaltar que esta descoberta não classifica as vacinas de COVID-19 como uma cura para o câncer. O Dr. Steven Goldberg, MD, MBA, diretor médico da HealthTrackRx, enfatiza que, por enquanto, o principal benefício da vacinação em pacientes oncológicos continua sendo a prevenção da COVID-19 e suas complicações.

No entanto, se os achados forem confirmados por estudos mais aprofundados, eles podem redefinir a forma como as vacinas são integradas ao tratamento oncológico.

O oncologista Dr. Jeff Yorio, MD, da Texas Oncology, destaca que este estudo retrospectivo é um achado promissor: “Teremos que estudar se outras vacinas de mRNA poderiam ter o mesmo tipo de benefício, ou se isso é visto apenas nas vacinas de mRNA contra a COVID-19.” Ele observou que vacinas tradicionais, como as da gripe e da pneumonia (não baseadas em mRNA), não mostraram o mesmo efeito.

Fato e Ficção sobre a Vacina e o Câncer

Por fim, a pesquisa serve como um lembrete importante em meio a desinformação:

  • A vacina de COVID-19 é segura: Especialistas continuam a afirmar que a vacina é muito segura e não há evidências de que ela cause câncer. O aumento na incidência de câncer observado recentemente é atribuído à queda de diagnósticos e exames preventivos durante o lockdown de 2020.
  • Benefícios Principais: O Dr. S. Wesley Long, Ph.D., reitera que a vacinação continua sendo a melhor ferramenta para prevenir doenças graves, hospitalização, morte e o risco de desenvolver COVID longa.

Em resumo, o que antes era visto apenas como um escudo contra o vírus pode estar se revelando uma arma secreta no arsenal contra o câncer, adicionando uma nova e poderosa razão para a vacinação.