
UE vive boom solar e bate recorde de geração: 45 TWh em junho.
A União Europeia alcançou, em junho de 2025, um marco histórico: pela primeira vez, a energia solar foi a principal fonte de geração elétrica do bloco, com 45,4 terawatts-hora (TWh) gerados — superando a energia nuclear (21,8%) e a eólica (15,8%).
O levantamento revela que 13 países do bloco bateram seus próprios recordes mensais, incluindo Alemanha, Espanha, Holanda, Grécia e Hungria. Ao longo do primeiro semestre, a energia solar já havia ultrapassado a hidrelétrica, somando 179 TWh contra 172 TWh das usinas hidrelétricas.
Esse avanço foi impulsionado tanto por ondas de calor históricas quanto por forte expansão da capacidade instalada de painéis fotovoltaicos — com destaque para a Europa Central e Oriental. De acordo com projeções da Comissão Europeia, a UE deve adicionar 70 gigawatts (GW) de capacidade solar ainda em 2025, consolidando o ano como o de maior crescimento da história nesse setor.
Comparação
Para se ter uma ideia do que essa geração de energia representa, basta olhar para a cidade de Vitória, capital do Espírito Santo. Segundo dados da EDP, concessionária responsável pelo fornecimento de energia na região, o consumo anual de Vitória gira em torno de 470 gigawatts-hora (GWh). Como 1 terawatt-hora equivale a 1.000 gigawatts-hora, isso significa que a geração solar da UE em apenas um mês seria suficiente para abastecer a capital capixaba por aproximadamente 96 anos.
Essa comparação ajuda a dimensionar o tamanho do feito europeu: o que foi produzido em 30 dias seria mais do que o bastante para atender décadas de demanda elétrica de uma cidade brasileira de médio porte.
“A Europa está se tornando uma potência solar”
Para o analista sênior do Ember, Chris Rosslowe, a energia solar tem cumprido papel fundamental, especialmente em períodos críticos de alta demanda, como os verões cada vez mais quentes no continente. “A solar está dando conta do recado justamente quando é mais necessária — durante ondas de calor e picos de consumo. A Europa está se tornando uma potência solar”, afirmou.
O crescimento também foi observado em países do Leste Europeu, como Polônia, Hungria e Romênia, que saltaram de 9 GW instalados em 2019 para 46 GW em 2024, tornando o sol responsável por mais de 10% de toda a matriz elétrica regional.
Cresce o uso de carvão e gás em meio à queda da eólica e hídrica
Apesar do avanço da energia solar, outras fontes renováveis enfrentaram dificuldades ao longo do primeiro semestre. A geração eólica caiu 9%, enquanto as hidrelétricas recuaram 15% — principalmente devido à escassez de ventos e à redução das chuvas de inverno em países como França, Itália e Alemanha.
Com isso, a União Europeia teve que recorrer a fontes fósseis para cobrir a demanda. A produção com gás natural aumentou 19% e o uso de carvão subiu 2%, o que resultou em aumento de 9% nas emissões de dióxido de carbono (CO₂).
“O aumento da energia solar conseguiu compensar apenas parcialmente a queda das outras fontes renováveis”, explicou Bruno Burger, especialista do Instituto Fraunhofer ISE, na Alemanha.
Avanço solar exige novos investimentos em armazenamento e redes
Apesar do recorde, especialistas alertam que o crescimento sustentável da energia solar exige grandes investimentos em armazenamento de energia e na modernização da infraestrutura elétrica. Atualmente, a produção solar é concentrada durante o dia e, sem baterias eficientes, o sistema elétrico europeu ainda depende de fontes complementares, como gás e carvão, durante a noite ou em dias nublados.
Além disso, analistas apontam a necessidade de flexibilizar o sistema elétrico europeu, conectando de forma mais eficiente as redes entre os países e acelerando o licenciamento de projetos renováveis.
Próximos passos da transição energética
O avanço da energia solar é um sinal promissor para as metas ambientais da União Europeia, que busca atingir neutralidade de carbono até 2050. Entretanto, o desempenho instável das fontes renováveis neste semestre reforça a urgência de diversificar e estabilizar a matriz energética.
Entre os desafios para os próximos anos estão:
- A ampliação do armazenamento em larga escala (como baterias e hidrogênio verde);
- A modernização das redes de transmissão;
- A manutenção de políticas públicas que incentivem a expansão solar e eólica.
Enquanto isso, a Europa continua a experimentar, na prática, os efeitos de um clima cada vez mais extremo — onde a energia solar pode ser tanto aliada quanto refém.