Tarifaço de Trump ameaça economia capixaba, mas 47% das exportações escapam da sobretaxa

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O tarifaço de 50% anunciado pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros representa uma ameaça direta à economia do Espírito Santo. Segundo maior estado exportador para o mercado americano, o ES já começa a sentir os reflexos da medida, que entra em vigor no dia 6 de agosto.

A lista de exceções publicada pelos EUA trouxe um certo alívio: quase metade das exportações capixabas — cerca de 47,1% — ficarão isentas da tarifa extra. Entre os produtos que escaparam da sobretaxa estão celulose, minério de ferro, ferro fundido e parte das rochas ornamentais, como os blocos brutos.

No entanto, os principais produtos da pauta capixaba, como granitos e mármores processados, quartzitos e café conilon, foram incluídos na nova taxação e já enfrentam sérias consequências. No setor de rochas ornamentais, mais de 1.200 contêineres estão retidos no Porto de Vitória, provocando um prejuízo estimado de R$ 360 milhões apenas nesse segmento. Contratos foram suspensos e embarques cancelados por compradores norte-americanos, temerosos de receber cargas após o início da vigência da tarifa.

O café conilon, cuja produção é liderada pelo Espírito Santo no Brasil, também foi duramente afetado. Em 2024, o estado enviou mais de 1,6 milhão de sacas para os Estados Unidos. Com o tarifaço, cerca de 2.500 toneladas deixaram de ser embarcadas em poucos dias, e a estimativa é de que as perdas possam reduzir as exportações da commodity em até 25% neste segundo semestre.

A indústria de celulose, um dos maiores pilares da balança comercial capixaba, escapou da tarifação e mantém sua operação com normalidade, representando mais de US$ 450 milhões em exportações no ano passado.

Mesmo com a exclusão de parte dos produtos, o impacto sobre a economia estadual é amplo. O Espírito Santo possui uma taxa de abertura comercial superior à média nacional, o que o torna mais vulnerável a choques externos. A interrupção no fluxo comercial já compromete operadoras logísticas, transportadoras, trabalhadores portuários e produtores, com estimativas que apontam para a possibilidade de até 50 mil empregos em risco.

Em resposta à crise, o governo estadual criou um comitê emergencial com participação de secretarias estratégicas, bancos públicos e representantes dos setores mais afetados. O grupo busca alternativas, apoio federal e novos mercados para os produtos atingidos.

Enquanto isso, o governo brasileiro tenta ampliar a lista de exceções junto aos EUA. Produtos como sucos e aeronaves da Embraer já foram retirados da taxação, mas, no caso do Espírito Santo, a única exceção relevante confirmada até agora é a celulose.

Com uma economia fortemente dependente do comércio exterior e enfrentando um cenário global instável, o Espírito Santo corre contra o tempo. O desafio agora é preservar sua base produtiva, manter empregos e garantir espaço no mercado internacional. A crise imposta pela nova tarifa americana vai muito além da diplomacia: é um teste direto à resiliência econômica do estado.