STF se prepara para iniciar julgamento de Bolsonaro e aliados por tentativa de golpe

O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia amanhã, 2 de setembro, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete réus acusados de planejar uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. O processo, que terá oito sessões ao longo de duas semanas, já mobiliza um dos maiores esquemas de segurança da história recente da Corte e repercute em todo o mundo.

O julgamento ocorrerá nos dias 2, 3, 9, 10 e 12 de setembro, em sessões pela manhã e à tarde. A abertura caberá ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, que apresentará o relatório. Em seguida, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, terá até duas horas para sustentar a acusação. As defesas dos réus falarão por até uma hora cada. Depois, votam os ministros Moraes, Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin. A maioria de três votos define o resultado.

O núcleo do plano golpista
A acusação sustenta que Jair Bolsonaro liderou a articulação para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro de 2023. Walter Braga Netto, general da reserva e ex-ministro da Defesa, aparece como o principal articulador operacional, responsável por mobilizar militares e difundir informações falsas para justificar a ruptura.

O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, foi apontado como elo de ligação, responsável por intermediar reuniões, articular apoio de setores militares e viabilizar logística. Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, teria sido o único dos chefes das Forças Armadas a apoiar o golpe.

No campo jurídico, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, ao lado de aliados, teria elaborado a chamada “minuta do golpe”, um documento que previa a decretação de estado de exceção e a intervenção no Tribunal Superior Eleitoral. Outros nomes, como Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin e deputado federal, são acusados de usar a máquina de inteligência para monitorar opositores e alimentar a estratégia.

Segurança reforçada
Desde este fim de semana, a Praça dos Três Poderes, em Brasília, está sob vigilância redobrada, com barreiras, policiamento ostensivo e varreduras com drones e cães farejadores. Dentro do STF, haverá esquema especial de credenciamento para advogados, jornalistas e cidadãos. Na residência de Bolsonaro, em Brasília, o monitoramento foi intensificado. Viaturas da Polícia Federal permanecerão na área externa, e todos os veículos que saírem do condomínio serão vistoriados.

Repercussão internacional
O julgamento desperta atenção global. Jornais como The Economist, The New York Times e Le Monde destacaram o caráter histórico do processo, apontando que o Brasil está diante de uma prova de resistência democrática. A comparação com a invasão ao Capitólio, em Washington, em 2021, é recorrente.

Nos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump, aliado de Bolsonaro, criticou a condução do caso e chegou a impor sanções contra autoridades brasileiras. Já a União Europeia e organismos internacionais manifestaram apoio à Justiça brasileira e reforçaram a importância da responsabilização legal.

Um momento decisivo
Na véspera do julgamento, a expectativa é de que o processo se torne um divisor de águas na história política recente. Mais do que a definição do futuro de Bolsonaro e seus aliados, estará em pauta a solidez das instituições brasileiras diante de ataques ao regime democrático.