
Mulheres grávidas em Gaza enfrentam uma crise sem precedentes: o risco de perder seus bebês antes ou logo após o nascimento se tornou realidade diária. Bebês prematuros e subnutridos emergem como símbolos de um sofrimento que cresce a cada dia. Além disso, o desmoronamento do sistema de saúde, somado à falta de alimentos, amplia o trauma físico e psicológico. Os números falam por si: uma queda de 41% na taxa de natalidade, com apenas 17.000 nascimentos registrados no primeiro semestre de 2025. Consequentemente, complicações tratáveis transformam‑se em sentenças de morte precoce.
Desde outubro de 2023, Gaza vive sob bombardeios contínuos e bloqueios que devastaram a saúde reprodutiva de suas mulheres e crianças. Entre janeiro e junho de 2025, apenas 17 000 nascimentos foram registrados — uma queda de 41% em relação ao mesmo período de 2022 —, de acordo com o Ministério da Saúde local. Para agravar, pelo menos 220 natimortos ocorreram nesse período, e cerca de 5.560 bebês (33%) nasceram prematuros, com baixo peso ou necessitando de cuidados intensivos.
A interrupção no envio de mais de 160‑170 caminhões com suprimentos essenciais — incubadoras, kits de maternidade, equipamentos de ultrassom e medicamentos obstétricos — deixou as maternidades quase paralisadas. Instituições de saúde foram atacadas ou danificadas: 70% dos medicamentos estão em falta e metade dos equipamentos médicos permanece inutilizável, reduzindo em 70% o acesso ao cuidado neonatal.
Apenas sete hospitais e quatro hospitais de campo oferecem algum tipo de atendimento obstétrico/neonatal — e nenhum opera com estrutura completa, especialmente pela falta de combustível que interrompe serviços vitais como ambulâncias, laboratórios e incubadoras. Em particular, 157 partos ocorreram fora de ambiente hospitalar, sem suporte adequado.
A fome crescente, junto à escassez de água potável e condições sanitárias precárias, agrava a saúde das gestantes. Segundo dados da UNFPA e HRW, até 20% das mulheres grávidas estão subnutridas, e um em cada três gestações é classificado como de alto risco. As taxas de aborto, mortes pré-natais e partos prematuros disparam. Um levantamento do Human Rights Watch revelou que a maioria das instalações de saúde perdeu a capacidade de oferecer atendimento básico, resultando em partos em ruas, abrigos ou em centros de saúde lotados sem higiene nem segurança.
Além do impacto físico, o trauma psicológico — somado ao medo constante de ataques e deslocamentos forçados — provoca efeitos irreversíveis na saúde mental e reprodutiva das mulheres.
Em resposta, a UNFPA, UNICEF, WHO e UNRWA exigem que Israel permita passagem irrestrita de ajuda humanitária — desmilitarizada, contínua e segura — incluindo combustível, alimentos, medicamentos e equipamentos médicos necessários à sobrevivência de mães e bebês. Segundo a UNFPA, “cada momento perdido significa mais perdas de vidas evitáveis e sofrimento inimaginável para os mais vulneráveis”.
O porta-voz da ONU em Nova York, Stéphane Dujarric, reforçou que um cessar-fogo poderia permitir a ampliação imediata das operações humanitárias, desde que houvesse passagem segura para civis, suprimentos e equipes humanitárias.
O colapso do sistema de saúde e a fome extrema em Gaza transformaram o parto em um risco mortal. O declínio brusco na natalidade e o aumento drástico de complicações revelam uma realidade em que o nascimento de uma criança se tornou um desafio à vida. A comunidade internacional precisa reagir com urgência para evitar que uma geração inteira seja perdida.