Raios destroem 320 milhões de árvores por ano e liberam até 1,09 bilhão de toneladas de CO₂

Todos os anos, cerca de 320 milhões de árvores são mortas por raios em florestas ao redor do planeta, provocando a liberação de até 1,09 bilhão de toneladas de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera. A estimativa, baseada em um modelo climático global, revela que os raios são um importante fator natural de perda de biomassa vegetal e uma fonte expressiva de emissões de gases de efeito estufa — ainda pouco considerada nas políticas ambientais.

Utilizando uma abordagem inédita, pesquisadores cruzaram dados observacionais e padrões globais de descargas atmosféricas para identificar o impacto direto dos raios sobre árvores com mais de 10 cm de diâmetro. O resultado mostrou que essas descargas representam entre 2,1% e 2,9% de toda a perda anual de biomassa vegetal no planeta.

A decomposição das árvores mortas por raios libera uma quantidade significativa de carbono, próxima à emitida por incêndios florestais provocados por queima de vegetação viva. Enquanto a combustão em incêndios libera cerca de 1,26 bilhão de toneladas de CO₂, os raios contribuem com até 1,09 bilhão — um valor surpreendente para um fenômeno geralmente silencioso e pouco monitorado.

Os impactos se concentram, principalmente, em regiões tropicais, como na África, onde a combinação de densidade florestal e alta incidência de tempestades elétricas favorece esse tipo de mortalidade. No entanto, modelos climáticos indicam que, com o avanço do aquecimento global, o fenômeno deve se expandir também para regiões de latitudes médias e altas, como a Europa e a América do Norte. Tempestades convectivas mais intensas nessas áreas podem aumentar não só o número de raios, mas também os ventos fortes, que agravam ainda mais a perda de árvores.

Ao incluir a mortalidade por raios em modelos globais de vegetação, os pesquisadores demonstraram que a biomassa florestal do planeta seria entre 1,3% e 1,7% maior se não fosse por esse tipo de distúrbio natural. Em florestas tropicais, estima-se que até 40% das mortes de grandes árvores sejam causadas exclusivamente por descargas elétricas.

O estudo ressalta que os raios devem ser considerados como um fator ecológico relevante nos sistemas de monitoramento climático e na formulação de estratégias de conservação. Diante da intensificação das mudanças climáticas, compreender todos os mecanismos que afetam o ciclo do carbono se torna essencial para frear o avanço do aquecimento global.