Quando a mobilidade vira problema: Amsterdã e o gigantesco descarte de bicicletas nos canais

barcos-guindastes "pescam" bicicletas nos canais de Amsterdã

Nos canais mais charmosos do mundo, não são só barcos e cisnes que passeiam — há verdadeiros cemitérios de bicicletas escondidos no fundo. O que era solução virou problema: mais bikes do que gente significa também mais bikes no lixo líquido da cidade. Guindastes viraram “pescadores” oficiais, resgatando dezenas de magrelas numa coreografia de ferro e lama digna de viral nas redes sociais. Mobilidade limpa? Sim. Mas sustentabilidade não termina na pedalada — começa também em onde (e como) você descarta sua bike. Quem diria que o paraíso dos ciclistas também é o maior cemitério de bicicletas do planeta?

Canais de Amsterdã: Paraíso dos Ciclistas ou Cemitério Submerso?

Amsterdã é mundialmente reconhecida por sua infraestrutura cicloviária exemplar, com mais de 400 km de ciclovias e uma cultura que coloca a bicicleta como meio de transporte principal. Entretanto, essa paixão pelo pedal tem um lado sombrio: os canais da cidade, famosos por sua beleza pitoresca, escondem um número impressionante de bicicletas submersas. Estima-se que cerca de 15.000 bicicletas sejam retiradas dos canais anualmente, um reflexo de práticas como vandalismo, furtos e até mesmo brincadeiras juvenis.

A Prática do “Fietsen Vissen”

Para lidar com esse problema, a cidade desenvolveu o “fietsen vissen” (pesca de bicicletas), uma operação que utiliza guindastes hidráulicos para resgatar as bicicletas submersas. Essas operações não apenas limpam os canais, mas também geram um espetáculo curioso para os moradores e turistas. Após retiradas, as bicicletas são enviadas para sucateiros, onde são recicladas — algumas até transformadas em latas de cerveja, fechando um ciclo irônico entre consumo e descarte.

Causas e Consequências

Embora o ato de jogar bicicletas nos canais possa parecer uma diversão inofensiva, ele reflete questões mais profundas, como falta de educação ambiental, ausência de pontos de descarte adequados e até mesmo falta de fiscalização. Além disso, esse comportamento contribui para a poluição dos corpos d’água e representa um desperdício de recursos materiais.

Reflexões para Outras Cidades

Cidades ao redor do mundo, como Paris, enfrentaram desafios semelhantes com programas de compartilhamento de bicicletas. O caso do “White Bicycle Plan” de Amsterdã nos anos 1960, onde bicicletas foram disponibilizadas gratuitamente, mas rapidamente desapareceram devido a furtos, serve como um alerta sobre a necessidade de planejamento e infraestrutura adequados para programas de mobilidade sustentável.

Amsterdã, com sua rica tradição ciclística, enfrenta o paradoxo de ser ao mesmo tempo um modelo de mobilidade sustentável e um exemplo dos desafios do descarte irresponsável. Enquanto a cidade continua a promover o uso da bicicleta como meio de transporte, é essencial que também se invista em educação ambiental, infraestrutura de descarte e políticas públicas eficazes para garantir que a paixão pelo pedal não afunde nos canais da cidade.