Poluição do ar não só adoece pulmões: novo estudo associa poluentes ultrafinos ao risco de tumor no cérebro

Imagem de freepik

Um estudo recente publicado na revista Neurology sugere que a poluição do ar, especialmente partículas ultrafinas provenientes do trânsito, pode aumentar o risco de meningioma — um tipo comum de tumor cerebral, em geral benigno, mas que pode causar sérias complicações. A pesquisa, realizada na Dinamarca, acompanhou cerca de quatro milhões de adultos ao longo de 21 anos, identificando uma associação preocupante entre a exposição contínua a poluentes e o surgimento desses tumores.

Os pesquisadores monitoraram registros de saúde entre 1997 e 2018, estimando o quanto os participantes foram expostos a partículas ultrafinas (menos de 0,1 μm) no ambiente urbano. Cerca de 16.600 pessoas desenvolveram tumores no sistema nervoso central, sendo 4.600 casos de meningioma. Os resultados mostraram que a exposição prolongada ao ar poluído está associada a um aumento significativo do risco deste tumor.

O que são meningiomas?

Esses tumores se originam nas meninges, camadas protetoras que envolvem o cérebro e a medula espinhal. Embora raramente sejam malignos, podem causar sintomas neurológicos graves — como dores de cabeça intensas, convulsões e alterações visuais — ao comprimir áreas cerebrais sensíveis .

Mecanismos biológicos

Pesquisas sugerem que partículas ultrafinas podem atravessar a barreira hematoencefálica, induzindo inflamação cerebral e dano ao DNA das células nervosas . Essas mesmas partículas já são ligadas ao declínio cognitivo e risco de demência, especialmente em populações expostas a fumaça de incêndios florestais.

Contexto global

Não é a primeira vez que a poluição do ar é associada a problemas neurológicos. Em 2024, estudo apresentado no Alzheimer’s Association concluiu que cada aumento de 1 µg/m³ de PM2.5 vindo de incêndios elevou em 21% o risco de demência entre idosos na Califórnia — índice muito superior ao observado com partículas urbanas comuns .

Panorama histórico

Desde o clássico Harvard “Six Cities Study”, de 1993, sabe-se que partículas finas causam excesso de mortalidade por doenças respiratórias e cardiovasculares. Já as recentes investigações sobre a saúde do cérebro confirmam que os danos são mais abrangentes do que se imaginava.

Citações de especialistas

  • Ulla Hvidtfeldt, do Danish Cancer Institute: “Esses achados apontam que a poluição do ar pode afetar o cérebro — não apenas o coração e os pulmões”.
  • Jordi Sunyer, do Barcelona Institute of Global Health: “Observamos diferenças no cérebro de fetos expostos à poluição; precisamos entender se isso persiste ou reverte.

Desdobramentos atuais e próximos passos

  • As autoridades de saúde precisam incorporar o risco neurológico da poluição em políticas públicas. Limites mais rígidos para emissões de ultrafinas devem ser considerados.
  • Clínicos devem estar atentos a sintomas neurológicos em pessoas que vivem em áreas urbanas poluídas.
  • Pesquisas adicionais são urgentes para confirmar causalidade e entender mecanismos, assim como para explorar medidas preventivas, como filtros urbanos e redução de tráfego.

A ciência já sabia: poluição do ar prejudica o coração e os pulmões. Agora, evidências robustas — como o estudo dinamarquês de impacto mundial — apontam também para riscos cerebrais, incluindo o desenvolvimento de tumores. Essa realidade realça a urgência em combater os poluentes e proteger nosso cérebro, um órgão vital demasiadamente vulnerável à poluição invisível.