A Câmara Federal começa hoje a debater o marco legal da Segurança Pública, o chamado projeto antifacção. O projeto foi enviado pelo governo federal, após ser debatido durante meses pelo Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, com vários setores da sociedade civil e políticos. Entretanto, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) entregou a relatoria do projeto ao deputado bolsonarista Guilherme Derrite (PP-SP). Derrite se licenciou do cargo em São Paulo, apenas para relatá-lo. Ao entregar o projeto do governo para ser relatado pela oposição, o presidente da Câmara, revelou a intenção clara da direita em se apropriar politicamente da pauta da segurança. A imprensa acredita que, apenas, com vistas às eleições de 2026. Entretanto, o que está em jogo vai muito além disso: garantir a proteção dos recursos financeiros das organizações criminosas. e seus líderes.
Ligue os pontos:
No dia 28 de agosto, o governo federal deflagrou a “operação carbono oculto” para atacar um braço financeiro do crime organizado. Definida como a maior operação contra o crime organizado no Brasil, a operação chegou ao coração financeiro da cidade de São Paulo, a Faria Lima, e incomodou claramente setores da extrema-direita brasileira, entre eles, o expoente bolsonarista, deputado Nikolas Ferreira (PL-MG).
Após a operação, o governo federal lançou uma campanha na mídia mostrando o sucesso da operação e que o combate ao crime organizado só acontece de verdade atacando as finanças dos grupos.
Essa estratégia, dentro da lógica de combate ao crime organizado, com certeza, colocou em alerta os líderes das facções criminosas, que, todos sabem, não andam de chinelo e armados de fuzis nas favelas brasileiras.
No dia 28 de outubro, o governo bolsonarista do Rio de Janeiro realizou a maior operação contra facções criminosas no estado. Atacou o complexo de favelas do Alemão e da Penha que culminou na morte de 121 pessoas entre elas, 4 policiais. Todos os mortes eram soldados pé-de-chinelo do facção comando vermelho. Tratada pelo governador Claudio Castro como um grande sucesso, a operação trouxe como reação política, uma reunião de governadores de direita, no Rio de Janeiro, para criticar a política de segurança do governo federal e a aceleração da discussão sobre o marco legal da segurança pública que estava parado no Congresso.
Esta semana, o secretário de segurança pública de São Paulo, o deputado Guilherme Derrite (PP-SP) – que se licenciou do cargo apenas para relatar o marco legal – apresentou um relatório que tira poder da Polícia Federal no combate ao crime organizado e que tenta rotular as facções criminosas como grupo terroristas, em alinhamento com o governo norte-americano de Donald Trump.
Dentro da lógica de ação e reação, os pontos mostram um caminho político que reage a uma ação clara de combate às finanças do crime organizado.
Enquanto o alvo do governo federal é o bolso das facções para retirar recursos dos criminosos; os governos estaduais de direita contra-atacam matando bagrinhos em ações policiais espetaculosas jogando para a plateia e tentam mudar a legislação de combate ao crime, para enfraquecer as ações da Polícia Federal.
A grande imprensa olha as ações e reações como embate político com vistas às eleições de 2026, mas a lógica vai muito além: garantir que o dinheiro do crime organizado continue circulando, entranhado em empresas aparentemente legais como as Fintechs, postos de combustíveis, construtoras, imobiliárias entre outros ramos da economia. Dinheiro usado para a compra de armas e drogas; que irriga campanhas eleitorais e fortalece a corrupção no Brasil.
O que dá mais resultado no enfrentamento ao crime? Matar bagrinho ou atacar o bolso, frear o fluxo do dinheiro e prender as lideranças?
por Roberto Andrade
