O fim das moedas de um centavo: do Brasil aos Estados Unidos, o paradoxo econômico que custa mais caro do que vale

Produzir dinheiro nunca foi tão caro. No Brasil, cada moeda de um centavo custava R$ 0,09 para ser fabricada — nove vezes seu valor de face. Nos Estados Unidos, a história se repete: cada penny americano sai por US$ 0,037, quase quatro vezes seu valor nominal. Esse paradoxo econômico levou dezenas de países a abandonarem suas moedas de menor denominação nas últimas décadas, e agora os Estados Unidos se juntam oficialmente a essa lista.

O Brasil gastava quase R$ 0,09 na produção de cada moeda de um centavo em 2004, ano em que sua fabricação foi encerrada para cortar custos. Mesmo após duas décadas sem produção, ainda circulam 3,19 bilhões dessas unidades pelo país. A decisão brasileira antecipou uma tendência global que agora chega aos Estados Unidos de forma definitiva.

Em maio de 2025, o Departamento do Tesouro dos EUA anunciou que encerraria a fabricação de pennies, colocando seu último pedido de discos metálicos em branco. A medida foi impulsionada pelo presidente Donald Trump, que em fevereiro classificou a produção da moeda como “desperdício”. Em 2024, cada penny custou à Casa da Moeda dos EUA 3,69 centavos para produzir e distribuir, resultando em um prejuízo de cerca de US$ 85,3 milhões com a emissão de mais de 3 bilhões de unidades.

O problema não se restringe às moedas de um centavo. No Brasil, o custo de produção desvantajoso se aplica também às moedas de R$ 0,05, R$ 0,10 e R$ 0,25. No ano passado, uma moeda de cinco centavos custou cerca de R$ 0,13 para ser fabricada, enquanto a de dez centavos saiu por aproximadamente R$ 0,23. Nos Estados Unidos, um níquel, apesar de ter valor de cinco centavos, custa impressionantes 13,78 centavos para ser produzido, tornando-se um problema ainda maior que o penny.

Diversos países eliminaram suas moedas de menor valor de face nas últimas décadas: o Canadá parou de produzir centavos em 2012, a Austrália em 1992 e a Nova Zelândia em 1990. Quando o Canadá suspendeu a cunhagem, economizou cerca de US$ 11 milhões anuais. O governo americano espera economizar US$ 56 milhões por ano em custos de material reduzidos. Contudo, mesmo com o avanço tecnológico e com o sucesso do Pix, o dinheiro físico ainda é o terceiro meio de pagamento mais utilizado no Brasil, demonstrando que a transição para uma economia sem moedas físicas permanece gradual.