O colapso da ajuda humanitária: Gaza, Sudão e Haiti enfrentam tragédias simultâneas sem resposta internacional à altura

Enquanto o mundo observa, três tragédias humanitárias simultâneas desnudam o fracasso da comunidade internacional em garantir o básico: vida, comida e dignidade. Gaza, Sudão e Haiti atravessam situações de colapso social, sanitário e alimentar que desafiam os limites da resistência humana. A escalada da violência, o desmantelamento de estruturas de socorro e a insuficiência de recursos revelam um cenário alarmante de abandono e descaso.


Gaza: hospitais em ruínas e ajuda militarizada

Na Faixa de Gaza, após 20 meses de guerra, a realidade é desumana. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o sistema de saúde entrou em colapso diante do aumento de mortos e feridos. A escassez de água potável agrava a crise, com caminhões-pipa atendendo centenas de tendas improvisadas.

O mais grave, entretanto, está nos centros de distribuição de alimentos. Desde que Israel, Estados Unidos e parceiros privados assumiram parte da logística — à margem da ONU — mais de 410 palestinos morreram buscando comida. Muitos foram mortos a tiros por militares israelenses, o que levou o Escritório de Direitos Humanos da ONU a considerar os episódios como possíveis crimes de guerra.

Com 80% do território sob ordens de evacuação e o Complexo Médico Nasser operando em meio ao caos, o alerta é claro: Gaza está à beira de uma tragédia total, não apenas humanitária, mas moral.


Sudão: estupros, massacres e fome como armas de guerra

No Sudão, a situação é igualmente devastadora. A guerra civil entre o Exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF) transformou vilarejos em ruínas, hospitais em alvos militares e mulheres em instrumentos de guerra.

A Missão Independente da ONU denunciou ataques sistemáticos com armamento pesado em áreas civis, estupros coletivos, casamentos forçados e escravidão sexual em campos de deslocados. Em El Fasher, mais de 100 civis foram massacrados; em Kordofan, hospitais foram bombardeados com drones.

O bloqueio da ajuda humanitária, seja por burocracia do Exército ou saque pelas RSF, expõe milhões à fome. A ONU exige o cumprimento do embargo de armas e responsabilização dos envolvidos, mas a resposta internacional continua tímida e fragmentada.


Haiti: fome e violência em meio ao esquecimento

No Caribe, o Haiti enfrenta a pior crise alimentar em décadas. Com metade da população em insegurança alimentar e mais de 1,3 milhão de deslocados por conta da violência de gangues, a situação se agrava a cada dia.

A diretora regional do Programa Mundial de Alimentos (WFP), Lola Castro, alertou que os estoques da agência devem durar somente até o fim de julho. Com menos de 10% do apelo de emergência atendido, a ONU precisou reduzir a quantidade de comida entregue, mesmo com a aproximação da temporada de furacões.

Porto Príncipe está tomada por facções armadas. Com 85% da capital sob controle de grupos criminosos, a realização das eleições de 2026 está ameaçada. Enquanto isso, famílias refugiadas se sobrecarregam em lares já empobrecidos, e a ajuda internacional falha em oferecer respostas efetivas.


Um colapso da solidariedade global

Os três cenários, embora distintos em contexto, compartilham uma mesma negligência: a falência da ação coletiva. Em Gaza, a militarização da ajuda matou mais do que alimentou. No Sudão, a guerra ignora todas as convenções de direitos humanos. No Haiti, o esquecimento e a falta de fundos condenam uma nação à fome.

A ONU e suas agências gritam por socorro. Mas, sem vontade política e financiamento, a ajuda não chega, e a tragédia se repete, silenciosa, em três pontos do planeta. A questão que se impõe é: até quando a comunidade internacional vai assistir, inerte, ao colapso da humanidade?