
Enquanto o mundo celebra o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, em 3 de maio, profissionais da mídia em Gaza enfrentam não apenas a escassez de recursos, mas o risco constante à própria vida. Em meio a ruínas, perdas pessoais e traumas físicos, eles continuam registrando a realidade crua da guerra — movidos pela convicção de que a verdade precisa ser contada.
“Mesmo com uma perna a menos, continuo com minha câmera”
O repórter fotográfico palestino Sami Shahada é símbolo dessa resistência. Ferido gravemente durante um bombardeio israelense em Nuseirat, no centro de Gaza, em abril de 2024, Shahada perdeu uma perna. Mas isso não o impediu de retornar às ruas com sua câmera.
“Voltei ao fotojornalismo não apenas pelo trabalho, mas porque amo a fotografia desde a infância”, disse ele à UN News, enquanto se apoiava em muletas entre os escombros, com sua tradicional jaqueta azul de jornalista.
Mesmo após ter sido diretamente atingido, apesar de estar devidamente identificado com capacete e colete de imprensa, Shahada mantém o compromisso com a profissão. “É impossível para mim deixar o fotojornalismo, mesmo que enfrente todos estes obstáculos”, afirma. “Tenho a determinação e a persistência para enfrentar essa nova realidade. É assim que nós, jornalistas, devemos trabalhar em Gaza.”
Jornalistas com escritórios nas ruas
A realidade da imprensa palestina é marcada não apenas por ataques, mas pela precariedade extrema. “O mínimo necessário para fazermos jornalismo é ter energia elétrica e internet, mas muitos não têm sequer isso”, denuncia o jornalista Mohammed Abu Namous, que também cobre os impactos da guerra na Cidade de Gaza.
Com edifícios de redações destruídos, Abu Namous e seus colegas recorrem a lojas que oferecem internet ou simplesmente montam seus “escritórios” nas ruas. “Enquanto o mundo celebra a liberdade de imprensa, nós recordamos nossos locais de trabalho que viraram escombros.”
Ele destaca ainda que jornalistas palestinos têm sido alvos constantes desde o início da guerra, e faz um apelo por proteção: “Seja na Palestina ou em qualquer parte do mundo, jornalistas devem ser protegidos.”
Perdas pessoais, missão inabalável
Para Moamen Sharafi, o trabalho jornalístico tornou-se ainda mais urgente após perder membros da família em um ataque israelense no norte de Gaza. Apesar da dor pessoal, ele afirma que sua missão continua firme.
“Devemos continuar nossa cobertura e defender nossos valores profissionais, com humanidade”, declarou. Sharafi acredita que é dever da imprensa mostrar ao mundo o que se passa em Gaza — especialmente o sofrimento das crianças, mulheres e idosos.
Liberdade de imprensa sob ataque
Desde o início da guerra em 7 de outubro de 2023, após os ataques do Hamas a Israel, dezenas de jornalistas palestinos foram mortos ou feridos. A escalada do conflito resultou em uma crise humanitária devastadora, e a mídia tem sido peça-chave na documentação das violações, mesmo em condições extremas.
Em Gaza, o jornalismo não é apenas profissão — é resistência, é sobrevivência, é um ato de coragem diante do silêncio imposto pelas bombas.
com informações da ONU News