O anuncia de que o Tesouro dos Estados Unidos pondera cunhar uma moeda de um dólar dedicada a Donald Trump é mais um tijolinho na construção da nova ditadura das américas.
Há quem diga que a história se repete — primeiro como tragédia, depois como farsa. No caso de Donald Trump, as duas coisas parecem acontecer ao mesmo tempo, num looping de reality show político transmitido em horário nobre. O homem que já chamou a Constituição dos Estados Unidos de “um documento muito, muito confuso, escrito por gente que nunca teve um programa de TV de sucesso” agora flerta abertamente com a ideia de reescrevê-la. E, veja só, com a ajuda da Suprema Corte — aquela mesma que ele moldou com o zelo de quem escolhe juízes como quem seleciona jurados num episódio de O Aprendiz.
Trump, recém-empossado em seu segundo — e, teoricamente, último — mandato, parece ter descoberto um novo brinquedo: a eternidade no poder. Inspirado, talvez, em Putin, Xi Jinping e outros “colegas” que não acreditam em limite de tempo para o amor patriótico, o ex-bilionário de cabelos mutantes decidiu que dois mandatos são muito pouco para salvar a América de si mesma. “A Constituição é boa, mas poderia ser mais… Trumpiana”, teria dito, segundo assessores que já se especializaram em traduzir o trumpês para o inglês compreensível.
O projeto é simples e aterrador: convencer o país de que mudar as regras do jogo não é um golpe, mas uma “melhoria do produto”. Afinal, quem melhor para redesenhar a Constituição do que alguém que já reformou cassinos, casamentos e a paciência da metade do planeta? A Suprema Corte, agora majoritariamente simpática a seu estilo de governar via rede social, parece disposta a ouvir o homem que prometeu “tornar a América grande de novo, e para sempre”.
Enquanto isso, a América se divide entre os que riem e os que choram — embora, em 2025, as duas reações já se confundam. As ruas se enchem de protestos, mas Trump, impassível, garante que tudo não passa de “fake news com cartazes”. Do alto do Salão Oval, ele observa o caos e sorri: o império está em chamas, mas o fogo tem o formato perfeito para um novo logotipo.

E, como se faltasse um toque de ironia histórica, o Tesouro americano acaba de divulgar o rascunho de uma moeda comemorativa pelos 250 anos da independência dos Estados Unidos. Nela, o rosto do presidente aparece em perfil solene, ladeado por uma águia altiva e, pasme, uma cena simbólica que remete à tentativa de assassinato de que foi alvo em 2024 — uma bala desviada, uma estrela cintilante e a legenda: “Deus abençoa os fortes”. É o tipo de gesto que transforma um político em mito — e um mito, em estátua. E todos sabemos o que acontece com estátuas: ou viram monumentos… ou são derrubadas.
Assim, nasce um ditador — não por um golpe súbito, mas por uma sucessão de aplausos, moedas e selfies. Um ditador de terno e gravata, que substituiu o uniforme militar pelo palanque digital. Talvez o século XXI tenha finalmente encontrado seu César: não o que atravessa o Rubicão, mas o que o transforma em campo de golfe.
No fim, Trump não está apenas tentando mudar a Constituição americana. Está tentando provar que, na era da pós-verdade, o poder não é de quem escreve as leis — é de quem as tuita primeiro. E, agora, também de quem estampa o próprio rosto no troco da padaria.
