Mistério em Anchieta: a árvore que “perfuma” a cidade com cheiro de esgoto

Sterculia foetida ou chichá-fedorento, árvore que exala um forte odor de esgoto

Uma beleza exótica que floresce anualmente no litoral do Espírito Santo se torna o centro das atenções por um motivo inusitado: um odor comparado a fezes e ovo podre, que intriga e afasta moradores.

Um fenômeno da natureza tem transformado a rotina dos moradores de Anchieta, a pacata cidade do litoral sul do Espírito Santo. Uma árvore de beleza exuberante, conhecida por sua floração vistosa, tornou-se a protagonista de uma história curiosa, não por suas flores, mas pelo odor potente e desagradável que exala, descrito por quem passa perto como uma mistura de “esgoto, ovo podre e fezes”.

O que para muitos poderia ser um problema de saneamento básico é, na verdade, uma estratégia de sobrevivência de uma espécie exótica: a Sterculia foetida, popularmente chamada de chichá-fedorento. Originária da Índia e da Malásia, a árvore foi introduzida no Brasil para fins ornamentais, mas sua principal característica se revela durante o período de floração, que ocorre tipicamente no inverno.

A ciência por trás do mau cheiro

O odor fétido, que causa tanto desconforto, tem uma explicação científica fascinante. Segundo especialistas, o cheiro é uma tática evolutiva para garantir a reprodução da planta. Diferente de flores perfumadas que atraem abelhas e borboletas, as flores do chichá-fedorento liberam compostos voláteis que mimetizam o cheiro de matéria em decomposição para atrair seus polinizadores específicos: as moscas.

Essa estratégia, conhecida como sapromiofilia, é um exemplo notável da complexidade dos ecossistemas. O próprio nome científico da árvore é uma referência direta a essa característica: Sterculia deriva de Stercus, o deus romano do mau cheiro, enquanto foetida, do latim, significa “fétida” ou “malcheirosa”.

Impacto na comunidade e o debate sobre a arborização urbana

Em Anchieta, assim como em outras cidades brasileiras onde a árvore foi plantada, a reação da população é de estranheza e reclamação. Moradores relatam que o cheiro é tão intenso que chega a ser confundido com vazamentos de esgoto ou lixo acumulado.

Apesar do incômodo, biólogos e ambientalistas ressaltam que o fenômeno é temporário, durando aproximadamente um mês, o período da floração. Passada essa fase, a árvore volta a ser apenas um elemento da paisagem urbana, fornecendo sombra e beleza, sem o odor característico.

O caso levanta um debate importante sobre o planejamento da arborização urbana. Especialistas sugerem que a priorização de espécies nativas da Mata Atlântica, como ipês e quaresmeiras, poderia evitar tais “efeitos colaterais” olfativos, embelezando as cidades sem causar transtornos à população.

Além do odor: utilidades e curiosidades

Apesar da fama negativa, a Sterculia foetida possui qualidades. Suas sementes, quando torradas, são comestíveis e apreciadas como castanhas em diversas regiões, sendo ricas em óleo. Além disso, estudos apontam que a planta possui diversas propriedades medicinais, sendo utilizada como diurético, anti-inflamatório e até antiviral em algumas culturas.

Enquanto o debate sobre sua permanência em áreas públicas continua, o chichá-fedorento cumpre seu ciclo, provando que a natureza, em sua busca pela perpetuação, utiliza as mais surpreendentes e, por vezes, malcheirosas estratégias.