
O governo federal anunciou a compra emergencial de 150 mil ampolas de etanol farmacêutico para reforçar o tratamento de casos de intoxicação por metanol no Brasil. A medida ocorre em meio ao aumento de notificações em diferentes estados e à dificuldade de acesso ao medicamento mais indicado, o fomepizol, que não é produzido no país e precisa ser importado com autorização especial da Anvisa.
Atualmente, o Brasil conta com um estoque estratégico de 4,3 mil ampolas de etanol farmacêutico, distribuídas em hospitais universitários e unidades do SUS. Com a aquisição anunciada, a expectativa é garantir cinco mil tratamentos completos. Paralelamente, o governo brasileiro acionou agências internacionais, como as dos Estados Unidos, União Europeia, Canadá e China, em busca de fornecedores de fomepizol. Também foi solicitado à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) a doação emergencial de cem tratamentos e a compra de mais mil unidades por meio do fundo estratégico da instituição.
De acordo com dados oficiais, até o início de outubro foram notificadas 59 suspeitas de intoxicação por metanol, das quais 11 tiveram confirmação laboratorial. Os registros estão concentrados em São Paulo, com 53 ocorrências, mas também há investigações em Pernambuco e no Distrito Federal. Ao menos uma morte foi confirmada em São Paulo, enquanto outros sete óbitos seguem em análise. Para ampliar a resposta, o governo paulista distribuiu duas mil ampolas de etanol absoluto a hospitais de referência em São Paulo, Campinas e Ribeirão Preto. Antes disso, o estado contava com apenas 500 unidades em estoque.
Embora o etanol farmacêutico seja considerado um antídoto eficaz e já esteja disponível em território nacional, especialistas apontam que o fomepizol oferece maior segurança porque bloqueia a transformação do metanol em substâncias tóxicas responsáveis por danos neurológicos e metabólicos graves. Como não há registro sanitário desse medicamento no Brasil, sua importação depende de autorização especial.
A sala de situação criada pelo Ministério da Saúde acompanha diariamente a evolução do surto e reúne técnicos de saúde, segurança pública, Anvisa e governos estaduais. Três laboratórios foram mobilizados para realizar análises rápidas: o Lacen-DF, o Laboratório Municipal de São Paulo e o INCQS/Fiocruz. Além disso, cerca de 600 farmácias de manipulação foram identificadas como aptas a produzir etanol farmacêutico, caso a demanda aumente.
As autoridades reforçam que casos suspeitos devem ser notificados imediatamente, sem necessidade de aguardar confirmação laboratorial. A população também recebe orientações claras: não consumir bebidas de procedência duvidosa, evitar destilados sem registro oficial e buscar atendimento médico imediato em caso de sintomas como visão turva, dor abdominal, náusea, vômito ou mal-estar persistente. O Disque-Intoxicação (0800-722-6001) está disponível para atendimento em todo o território nacional.
Enquanto o governo trabalha para ampliar a oferta de antídotos, seguem em curso investigações criminais e ações de fiscalização para identificar e conter a produção e a venda de bebidas adulteradas com metanol. Os próximos dias serão decisivos para avaliar a efetividade das medidas emergenciais, a chegada do fomepizol ao Brasil e a evolução do número de casos.