Maternidade após os 40 cresce no Brasil: novas escolhas, novos desafios

Imagem de Daniel Reche por Pixabay

Cada vez mais mulheres optam por ter filhos após os 40 anos no Brasil.

O sonho da maternidade não tem idade — e cada vez mais mulheres brasileiras têm vivido essa experiência depois dos 40.
Entre 2003 e 2022, o número de partos nessa faixa etária cresceu 83%, enquanto o índice entre mulheres mais jovens caiu.
Esse movimento acompanha mudanças sociais, econômicas e culturais, como o avanço da educação e o empoderamento feminino.
Apesar dos desafios, os avanços da medicina tornaram a maternidade tardia mais segura do que nunca.
A nova realidade exige políticas públicas que acompanhem essa transformação e garantam apoio às famílias.

Maternidade tardia em alta no Brasil

De acordo com dados do Ministério da Saúde, o número de partos em mulheres com 40 anos ou mais saltou de 57.983 em 2003 para 106.263 em 2022.
Esse crescimento de 83% reflete uma série de fatores: maior acesso ao planejamento familiar, estabilidade financeira, carreira profissional, tratamentos de fertilidade e decisões mais conscientes sobre o momento de ser mãe.

Em paralelo, caiu o número de nascimentos entre mulheres com até 29 anos.
Pesquisadoras como Thays Monticelli, da UFRJ, apontam que a maternidade está mais conectada aos projetos de vida das mulheres, e não apenas a uma imposição cronológica.

Saúde: riscos, mitos e avanços da medicina

É verdade que a partir dos 35 anos aumenta o risco de algumas complicações na gestação, como pré-eclâmpsia e diabetes gestacional.
No entanto, é incorreto associar automaticamente a maternidade tardia a um maior número de casos de autismo ou deficiência.

Segundo estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), fatores genéticos e ambientais complexos influenciam esses diagnósticos, e a idade materna isolada não é determinante.
Em relação ao autismo, por exemplo, um levantamento global publicado na revista Nature Reviews em 2023 aponta que, apesar de uma leve elevação estatística em mães acima dos 40 anos, os fatores são multifatoriais — incluindo herança genética, exposição ambiental e condições perinatais.

Além disso, os avanços da ciência permitem hoje um acompanhamento pré-natal mais eficaz, com exames genéticos, rastreamento de riscos e partos mais seguros.
A medicina reprodutiva também contribui com taxas crescentes de sucesso em fertilizações e preservação da fertilidade.

Famílias diversas e necessidade de apoio

A maternidade após os 40 não é apenas um dado estatístico: ela representa novos arranjos familiares e novas demandas sociais.
Muitas vezes essas mulheres são mães solo, profissionais autônomas ou precisam equilibrar a criação dos filhos com o cuidado de pais idosos — o que intensifica a sobrecarga emocional.

Especialistas defendem políticas públicas que incluam apoio psicológico, ampliação da licença-maternidade, creches acessíveis e programas de atenção integral à saúde da mulher em todas as fases da vida.


Retratos do Censo 2022: dados sobre deficiência e autismo

Esses dados não estão diretamente ligados à maternidade tardia, mas são essenciais para entender o contexto populacional e as necessidades de inclusão no Brasil:

1. Pessoas com deficiência

  • O Brasil tem 14,4 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência (7,3% da população).
  • As deficiências mais comuns são: visual (3,4%), motora (2%), intelectual (1,2%) e auditiva (1.1%).
  • A maioria vive em áreas urbanas, e 8,3 milhões são mulheres.

2. Pessoas diagnosticadas com autismo

  • O Censo 2022 registrou 2,4 milhões de pessoas com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA).
  • A maior incidência está entre crianças de 5 a 9 anos (24,9% do total diagnosticado).
  • A subnotificação ainda é um desafio, especialmente nas regiões Norte e Nordeste.

Esses dados reforçam a necessidade de ampliar a rede de apoio educacional, diagnóstica e social para todas as famílias — independentemente da idade dos pais.

A maternidade depois dos 40 deixou de ser exceção e passou a ser uma escolha legítima de muitas brasileiras.
Com apoio médico, planejamento e políticas inclusivas, essa nova geração de mães pode viver a maternidade com mais consciência e qualidade.
Cabe ao Estado e à sociedade civil caminhar junto para garantir que todas as crianças, independentemente de sua condição, tenham um futuro mais justo e acolhedor.