
Tornozeleira e confissão: Bolsonaro vira alvo de operação da PF e decisão do STF mantém restrições.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou a ser formalmente monitorado por tornozeleira eletrônica, após uma operação da Polícia Federal realizada nesta segunda-feira (14), em sua casa, em Brasília. A decisão é parte das medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da investigação que apura tentativa de golpe de Estado e obstrução de Justiça. Ao todo, foram cumpridos mandados de busca e apreensão, em mais um capítulo da crise judicial que envolve o ex-chefe do Executivo.
A operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, relator de inquéritos contra Bolsonaro e seus aliados no STF. A PF também apreendeu celulares e outros dispositivos eletrônicos do ex-presidente. Durante depoimento, Bolsonaro se recusou a responder às perguntas dos investigadores, mas teria, segundo Moraes, feito uma “flagrante confissão” ao admitir a destruição de provas digitais — como mensagens em aplicativos de celular.
“É uma suprema humilhação”, desabafou Bolsonaro em entrevista concedida após ser notificado sobre a tornozeleira, que já está em uso. O ex-presidente disse ainda que a medida tem “claro viés político”.
Flávio Bolsonaro viaja à Europa em meio à operação
Enquanto a Polícia Federal deflagrava a operação, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente, desembarcava na Europa. Ele alegou viagem oficial, mas a coincidência de datas gerou questionamentos sobre uma possível tentativa de blindagem familiar. O parlamentar evitou comentar o caso do pai, alegando que “não se pronunciaria sobre questões jurídicas em andamento”.
STF mantém medidas cautelares
A Primeira Turma do Supremo formou maioria nesta semana para manter todas as medidas cautelares impostas a Bolsonaro, incluindo a proibição de contato com outros investigados, retenção de passaporte, impedimento de uso de redes sociais e, agora, o uso da tornozeleira. A decisão é considerada um avanço na responsabilização do ex-presidente por supostos atos que visavam subverter a ordem democrática.
Segundo Moraes, Bolsonaro tentou “interferir diretamente no curso das investigações”, o que justificou o agravamento das medidas. A defesa do ex-presidente deve recorrer, argumentando que a tornozeleira fere sua imagem e liberdade.
Contexto internacional
A notícia repercutiu internacionalmente. Veículos como BBC, The Guardian e New York Times destacaram o uso da tornozeleira como um “símbolo dramático da queda de um líder populista que, em outro momento, se comparava a Trump”. A Al Jazeera chamou a ação de “movimento sem precedentes na democracia brasileira”.
O que está em jogo
A operação e as decisões do STF revelam uma nova fase no embate entre o Judiciário e figuras da extrema-direita no Brasil. Bolsonaro, que já foi alvo de outras investigações — desde o caso das joias sauditas até a fraude em cartões de vacinação — agora enfrenta a possibilidade real de inabilitação política e prisão preventiva, caso descumpra as restrições.
Ao mesmo tempo, o caso acirra os ânimos entre seus apoiadores e opositores, com novas manifestações previstas tanto nas ruas quanto nas redes. O Planalto, até o momento, mantém postura de neutralidade, reafirmando respeito à separação entre os Poderes.