Itália investiga “turismo de guerra” em Sarajevo: estrangeiros teriam pago para atirar contra civis nos anos 1990

Mais de duas décadas após o fim da guerra na Bósnia, uma denúncia estarrecedora voltou a chocar a Europa, reacendendo lembranças de um dos episódios mais sombrios da história recente. Promotores italianos investigam se estrangeiros pagaram para atirar contra civis em Sarajevo, durante o cerco que devastou a cidade entre 1992 e 1996. Para os sobreviventes, o medo de viver sob mira constante, que marcou o período, agora se mistura à indignação de saber que o sofrimento pode ter sido transformado em entretenimento pago.

Sarajevo viveu o mais longo cerco militar da história moderna, que durou quase quatro anos. Durante esse período, a população civil era alvo constante de franco-atiradores posicionados em colinas e edifícios ao redor da cidade. As novas denúncias apontam que, durante essa tragédia, estrangeiros — apelidados de “turistas-atiradores” — teriam pago intermediários para participar das ações de disparo, escolhendo alvos entre civis indefesos e tratando a violência como um espetáculo mortal.

Diante da gravidade, o Ministério Público de Milão abriu uma investigação para apurar possíveis crimes de guerra e tráfico de armas ligados a essas atividades. As autoridades analisam depoimentos e documentos que indicam a participação de cidadãos europeus nessas operações. O objetivo é crucial: identificar os responsáveis e compreender como funcionava essa rede clandestina que transformava a guerra em um negócio.

Para quem sobreviveu ao cerco, as revelações são um golpe emocional profundo. Muitos lembram o som dos tiros ecoando pelas ruas e o terror constante de sair de casa. Saber que parte desse sofrimento foi alimentada por “turistas” em busca de adrenalina aprofunda a dor. É como se a tragédia de Sarajevo fosse revivida, não apenas nas lembranças, mas na indignação de ver a violência tratada como diversão.

O caso reacende, assim, o debate sobre impunidade e memória na Europa pós-guerra. Mesmo passadas três décadas, muitos crimes cometidos nos Bálcãs permanecem sem julgamento. A apuração italiana pode abrir caminho para novas ações judiciais, servindo de alerta para o mundo: enquanto a violência for tratada como espetáculo, nenhuma sociedade estará realmente em paz, e o passado continuará a cobrar justiça no presente.