Remédio promete mudar a prevenção para populações vulneráveis.
Uma nova era na prevenção do HIV começa na Inglaterra e no País de Gales. Pela primeira vez, o sistema público de saúde oferecerá uma injeção de longa duração que protege contra o vírus.
A aprovação do medicamento cabotegravir, anunciada em 17 de outubro de 2025, marca um divisor de águas. O tratamento representa esperança real para milhares de pessoas em situação vulnerável. A medida reforça a meta global de acabar com novas transmissões de HIV até 2030.
Uma aplicação a cada dois meses
O novo tratamento simplifica tudo. Basta uma injeção a cada dois meses. Não precisa tomar comprimido todo dia.
A diferença é enorme. Cerca de mil pacientes que não conseguem aderir ao tratamento oral terão uma alternativa eficaz. Estudos mostram eficácia superior a 99%.
O medicamento estará disponível nas próximas semanas. As aplicações acontecerão em clínicas de saúde sexual do NHS. Profissionais treinados farão a administração.
Como funciona a proteção
O cabotegravir bloqueia uma enzima vital do HIV. Essa enzima se chama integrase. Sem ela, o vírus não se multiplica no corpo.
O resultado? O HIV não consegue estabelecer infecção. A tecnologia é superior aos comprimidos diários. Representa um salto científico real.
O Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados (NICE) aprovou o tratamento. A fabricante ViiV Healthcare produziu o medicamento. O Secretário de Saúde Wes Streeting chamou a aprovação de “transformadora”.
Quem pode receber
O tratamento é para pessoas em alto risco de contrair HIV. Mas há critérios específicos.
Podem receber adultos e jovens que:
- Têm risco elevado de infecção sexual por HIV
- São elegíveis para PrEP (profilaxia pré-exposição)
- Não conseguem tomar comprimidos orais
Os motivos variam. Alguns têm contraindicações médicas. Outros enfrentam violência doméstica. Muitos vivem em situação de rua. Há quem simplesmente não consiga engolir comprimidos.
A implementação começa em três meses. Organizações defendem distribuição rápida e justa. Richard Angell, do Terrence Higgins Trust, propõe expandir além das clínicas sexuais. “O medicamento pode alcançar quem não tem acesso à prevenção”, diz.
Desigualdades preocupam
Os números revelam um problema sério. O acesso à prevenção não é igual para todos.
Entre homens gays e bissexuais, 79% recebem PrEP. Isso vale para brancos e minorias étnicas. Mas entre heterossexuais, a situação muda completamente.
Apenas 35% das mulheres heterossexuais africanas negras recebem tratamento. Entre homens heterossexuais em risco, só 36%.
Em 2024, mais de 111 mil pessoas acessaram PrEP na Inglaterra. O número cresceu 7% em um ano. Ainda assim, especialistas alertam: a necessidade não está sendo atendida de forma justa.
A Associação Britânica de HIV (BASHH) vê esperança. O cabotegravir pode reduzir essas diferenças. Mas é preciso esforço real para tornar a prevenção acessível a todos.
Meta ambiciosa até 2030
O NHS na Inglaterra tem um objetivo ousado. Quer ser o primeiro país a acabar com as transmissões de HIV até 2030.
As ações já começaram. Hoje, 89 hospitais fazem testes rotineiros de HIV. Testam qualquer pessoa que coleta sangue. A prioridade são cidades com alta prevalência.
Os resultados aparecem. Novos diagnósticos caíram de 2.838 em 2023 para 2.773 em 2024. É uma queda de 2%. O progresso existe, mas o caminho ainda é longo.
Há outra novidade no horizonte. Uma injeção diferente chamada lenacapavir. Ela precisa de apenas duas aplicações por ano. Europa e Estados Unidos já aprovaram. O Reino Unido pode seguir o mesmo caminho quando a Gilead pedir autorização.
