Infraestrutura precária nos portos ameaça liderança do Brasil na exportação de café

Especialistas discutirão em julho sobre os gargalos logísticos e a capacidade esgotada em terminais portuários que estão travando embarques e gerando prejuízos milionários aos exportadores.

O Brasil, maior exportador de café do mundo, está enfrentando um gargalo logístico que ameaça a competitividade de sua principal commodity agrícola. Com terminais portuários saturados, infraestrutura defasada e atrasos constantes nos embarques, o setor cafeeiro projeta prejuízos crescentes. Esse cenário será o foco do painel “Desafios logísticos no abastecimento de café”, que ocorre durante o 10º Coffee Dinner & Summit, de 2 a 4 de julho, em Campinas (SP).

Segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), a situação nos portos brasileiros, especialmente em Santos (SP), tem gerado atrasos e omissões de escalas de navios, sobrecarregando os terminais e impedindo o escoamento da safra. Apenas em abril deste ano, mais de 737 mil sacas de café deixaram de ser embarcadas, causando um prejuízo direto de R$ 6,6 milhões aos exportadores.

De junho de 2024 até agora, os custos extras com armazenagem, detentions e alterações logísticas já somam R$ 73 milhões, de acordo com levantamento do Cecafé. “Esses entraves reduzem o repasse ao produtor, comprometem contratos com compradores internacionais e pressionam toda a cadeia produtiva”, alerta Eduardo Heron, diretor técnico da entidade.

Capacidade esgotada e alertas de especialistas

O diretor-presidente da MSC Brasil, Elber Justo, destaca que o tempo médio de espera para atracação no Porto de Santos chegou a 41 horas em 2024, o que é considerado crítico. “Apesar dos esforços, a infraestrutura atual não acompanha a demanda crescente. É preciso ampliar urgentemente os acessos marítimos e terrestres”, afirma.

Claudio Oliveira, presidente da Brasil Terminal Portuário (BTP), vai além: segundo ele, os terminais operam com mais de 85% da capacidade, muito acima do ideal de 63% recomendado pela OCDE. “É insustentável continuar operando nesse nível de saturação. Se não houver expansão e modernização, todos sairão perdendo: produtores, exportadores e consumidores”, disse.

Propostas e iniciativas

Para buscar soluções, o Cecafé tem investido em indicadores como o boletim Detention Zero, criado em parceria com a startup ElloX Digital, que mensura os impactos logísticos no setor. A entidade também atua junto a autoridades públicas e operadores privados, cobrando investimentos em dragagem, expansão de terminais e integração rodoviária e ferroviária.

Do lado privado, empresas como MSC vêm tentando mitigar os impactos com soluções intermodais – conectando cafeicultores do interior aos portos por meio de rodovias, ferrovias e barcaças. Ainda assim, a avaliação é que apenas ações conjuntas entre governo e iniciativa privada poderão evitar o colapso no escoamento da produção.

Evento estratégico reúne lideranças

O 10º Coffee Dinner & Summit, organizado pelo Cecafé, reunirá mais de mil participantes do Brasil e do exterior, entre produtores, exportadores, autoridades e especialistas. O evento debaterá temas críticos como infraestrutura, sustentabilidade e economia global. Entre os confirmados estão os governadores Romeu Zema (MG) e Renato Casagrande (ES), além do economista Marcos Troyjo, ex-presidente do Banco do BRICS.

O encontro também reforça o compromisso ambiental do setor: a edição deste ano foi certificada como Evento Carbono Zero, com o plantio de 69 árvores para neutralizar mais de 9,8 toneladas de CO₂.

Ao final, a expectativa é que o fórum sirva como catalisador de propostas efetivas para o futuro do comércio de café, em um momento decisivo para a manutenção da liderança global do Brasil no setor.