Holocausto Palestino em Gaza: colapso na saúde deixa 42 mil com ferimentos que “mudam vidas”, incluindo 10 mil crianças

Foto: ONU News

Sob bombardeios e deslocamento, população enfrenta amputações em massa, partos sem assistência e trauma psicológico profundo, enquanto hospitais estão à beira do colapso total.

A crise humanitária em Gaza atinge níveis catastróficos, com um legado silencioso e permanente de ferimentos físicos e psicológicos. De acordo com um alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 42.000 pessoas no território estão vivendo com ferimentos que “mudam suas vidas” devido ao conflito. Deste total, um número chocante de mais de 10.000 são crianças.

Os dados, divulgados pelo representante da OMS na Cisjordânia e Gaza, Dr. Rik Peeperkorn, revelam a escala da tragédia: esses ferimentos graves representam um quarto do total de mais de 167.300 feridos desde outubro de 2023. A situação é agravada por mais de 5.000 amputações e outros ferimentos graves em membros e medula espinhal.

Sistema de Saúde em colapso e crise de reabilitação

O sistema de saúde, que já operava no limite, está agora à beira do colapso. Atualmente, menos de 14 dos 36 hospitais de Gaza permanecem parcialmente funcionais. Paralelamente, os serviços de reabilitação, essenciais para vítimas de amputações e lesões na coluna, foram dizimados. Menos de um terço dos serviços que existiam antes do conflito ainda estão operando, e dezenas de profissionais de reabilitação foram mortos.

“Precisamos de investimento urgente em reabilitação ligada à saúde mental e cuidados inclusivos para deficientes”, enfatizou o Dr. Peeperkorn, destacando as profundas cicatrizes psicológicas que acompanham as lesões físicas.

Maternidade sob bombardeios: 55 mil grávidas “presas”

Os serviços de maternidade e parto foram severamente impactados. O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) estima que 55.000 mulheres grávidas estão “presas” em Gaza, enfrentando deslocamento, fome severa e bombardeios. Diariamente, nascem aproximadamente 130 bebês, com mais de um quarto por cesariana realizadas em condições precárias.

A cada semana, estima-se que pelo menos 15 mulheres dão à luz sem qualquer assistência especializada, e cerca de um em cada cinco recém-nascidos nasce prematuro ou com baixo peso, um reflexo direto das condições de vida e da desnutrição.

James Elder, porta-voz do UNICEF, descreveu cenas dantescas em hospitais como Al Aqsa e Nasser: “Há um nível real de medo e estresse… Ao ver um grande número de mães com recém-nascidos nos corredores, os hospitais estão simplesmente sobrecarregados”.

Cenário de Horror nos Hospitais Improvisados

Relatos de campo ilustram a brutalidade da situação. Em visita a um hospital, Elder testemunhou a morte de uma criança diante de seus olhos. “Enquanto conversávamos com o cirurgião, ela (Aya, de 6 anos) morreu na cama à nossa frente. Isso equivale a 30 minutos em um hospital”, relatou.

No mesmo local, ele viu três crianças baleadas por quadricópteros (drones) enquanto buscavam ajuda humanitária. “É uma zona de guerra, crianças no chão… há um menino que foi baleado e estava sangrando no chão”, detalhou. O porta-voz também alertou sobre a morte de pelo menos 1.000 crianças nos últimos dois anos, sem contar as que morreram de doenças evitáveis.

Deslocamento em Massa e Condições Desumanas

A crise é amplificada pelo deslocamento contínuo da população. Autoridades da ONU informaram que, somente em um período de 10 horas na quarta-feira, mais de 6.700 pessoas fugiram do norte de Gaza para o sul. Famílias no sul estão amontoadas em abrigos superlotados, tendas improvisadas ou dormindo ao relento, em meio a escombros, enfrentando saneamento precário e alto risco de separação familiar.

Ataques a instalações de saúde e trabalhadores humanitários

A insegurança é absoluta, mesmo dentro de hospitais. Christian Cardon, do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), confirmou que “não há lugar seguro, incluindo hospitais de campanha”, citando vários incidentes em que pacientes foram feridos novamente por balas perdidas dentro das instalações médicas.

A comunidade humanitária também sofre baixas diretas. A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) confirmou na quinta-feira a morte de seu 14º profissional de saúde em Gaza, o terapeuta ocupacional Omar Hayek, em um ataque que feriu quatro de seus colegas.

Diante do colapso, a OMS enfatiza a necessidade urgente de combustível, suprimentos médicos, próteses e proteção para os profissionais de saúde. Outra prioridade é a evacuação médica de mais de 15.000 pessoas, incluindo 3.800 crianças, que precisam de tratamento especializado fora de Gaza. Para isso, é essencial que mais países aceitem pacientes e que o caminho para a Cisjordânia e Jerusalém Oriental seja restaurado.

Enquanto isso, a população de Gaza, particularmente as crianças, carrega um fardo imensurável de trauma, perda e medo, sob um cenário de destruição que parece não ter fim.