O número de Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos (FASFIL) no Espírito Santo voltou a crescer em 2023 e atingiu 13,8 mil unidades ativas. O avanço de 3,9% em relação a 2022 confirma a força do setor no estado, que hoje responde por 2,3% de todas as entidades sem fins lucrativos do país. Apesar da expansão e da geração de empregos, os dados revelam um cenário marcado por forte presença feminina e desigualdade salarial persistente.
As informações fazem parte do estudo FASFIL 2023, elaborado pelo IBGE a partir do Cadastro Central de Empresas (CEMPRE), seguindo metodologia internacional adotada pela Organização das Nações Unidas. O levantamento considera apenas entidades privadas, sem fins lucrativos, institucionalizadas, autoadministradas e de adesão voluntária.
Mais entidades, mais empregos
Em 2023, as FASFIL empregaram 42,9 mil pessoas com vínculo formal no Espírito Santo, um aumento de 2,8% em relação ao ano anterior. No período, cerca de 1,2 mil novos postos de trabalho foram criados no setor.
Mesmo assim, o perfil predominante segue sendo o de organizações de pequeno porte. Do total de entidades ativas, 86,3% não possuíam nenhum empregado formalizado. Outras 6,5% tinham até dois trabalhadores. Na outra ponta, um grupo reduzido de grandes instituições concentra boa parte da força de trabalho: apenas 18 entidades, com mais de 500 empregados, reuniam 42,2% de todos os assalariados do setor no estado.
Mulheres são maioria, mas ganham menos
O retrato do mercado de trabalho nas FASFIL capixabas mostra ampla predominância feminina. As mulheres representavam 72,1% do total de assalariados, o equivalente a cerca de 30,9 mil trabalhadoras. Os homens somavam 27,9%, com aproximadamente 12 mil vínculos.
Apesar de serem maioria, as mulheres continuaram recebendo menos. Em 2023, a remuneração média feminina correspondeu a 86,7% do salário médio masculino. Enquanto os homens ganhavam, em média, 2,3 salários mínimos mensais, as mulheres recebiam 2,0 salários mínimos.
Em valores corrigidos, isso significa uma média de R$ 3.088,45 para os homens e R$ 2.676,84 para as mulheres. No ranking nacional, o Espírito Santo ocupou a 12ª posição entre os estados com menor remuneração média feminina no setor.
Escolaridade influencia renda
O estudo também aponta forte impacto da escolaridade nos salários. Cerca de um terço dos assalariados das FASFIL no Espírito Santo possuía nível superior em 2023. Para esse grupo, a remuneração média mensal foi de 3,3 salários mínimos.
Já os trabalhadores sem ensino superior receberam, em média, 1,5 salário mínimo. Na prática, o rendimento de quem não concluiu a graduação representou menos da metade do salário pago aos profissionais com nível superior.
Entidades religiosas lideram em número
Quando o recorte é feito pelo tipo de atividade, as entidades religiosas aparecem como maioria no estado. Em 2023, eram 6.172 unidades locais, o que corresponde a 44,6% de todas as FASFIL capixabas.
Por outro lado, o setor de Saúde concentrou a maior parte dos empregos. Embora representassem apenas 170 entidades, as organizações dessa área empregavam 21,8 mil pessoas, o equivalente a 50,8% de todo o pessoal assalariado das FASFIL no Espírito Santo.
Espírito Santo no contexto nacional
Mesmo com o crescimento recente, o Espírito Santo manteve a 13ª posição no ranking nacional em número absoluto de FASFIL. No recorte regional, o estado respondeu por 5,4% das entidades sem fins lucrativos do Sudeste em 2023.
Especialistas ouvidos por portais nacionais como G1 e UOL destacam que o avanço do setor reflete tanto a ampliação de serviços sociais, especialmente na saúde e assistência, quanto a dificuldade de muitas organizações em manter estruturas maiores e vínculos formais de trabalho, sobretudo fora dos grandes centros.
O levantamento do IBGE reforça a relevância econômica e social das FASFIL, ao mesmo tempo em que evidencia desafios antigos, como a concentração de empregos em poucas entidades e a desigualdade salarial entre homens e mulheres, mesmo em um setor historicamente associado à promoção social.
No contexto nacional, o levantamento mostra que, em 2023, as fundações privadas e associações sem fins lucrativos pagaram, em média, salários superiores aos praticados pelas empresas privadas: cerca de R$ 3.630,71 por mês, equivalentes a 2,8 salários mínimos, ante 2,5 salários mínimos nas empresas tradicionais — embora ambos fiquem abaixo da média da administração pública, que pagou 4 salários mínimos. Além disso, o estudo nacional identificou que essas fundações e associações empregaram 2,7 milhões de pessoas no país e representaram 5 % do total de trabalhadores formais, reforçando a relevância do setor no mercado de trabalho brasileiro.
