Florestas “zumbis”: o alerta científico sobre árvores que sobrevivem, mas já não renascem

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O aquecimento global está criando paisagens que parecem vivas, mas que já perderam a capacidade de se regenerar. Em meio às montanhas da Sierra Nevada, nos Estados Unidos, cientistas identificam florestas que apenas “persistem”, sem conseguir formar novas gerações. Essas áreas, chamadas de florestas zumbis, permanecem de pé, embora estejam deslocadas para um clima que já não corresponde às suas necessidades básicas. Pesquisadores temem que, ao primeiro grande distúrbio, elas desapareçam de vez. O fenômeno acende um debate urgente sobre como salvar ecossistemas que já habitam um mundo que não existe mais.

A expressão “florestas zumbis” pode soar dramática, mas descreve com precisão um processo silencioso e irreversível que avança sobre regiões inteiras de coníferas na Sierra Nevada. Ali, cerca de um quinto das florestas vive um descompasso climático profundo: as árvores adultas resistem, porém as mudas e plântulas não conseguem sobreviver ao calor e à seca que se intensificaram ao longo das últimas décadas.

O centro climático ideal para espécies como o pinheiro-ponderosa, o sugar pine e o abeto Douglas migrou rapidamente para altitudes mais altas, empurrado pelo aumento das temperaturas. No entanto, as florestas não se deslocam com a mesma velocidade. O resultado é uma paisagem que parece estável, mas que deixou de ter condições naturais para se perpetuar.

Essa desconexão tem consequências graves. Árvores maduras, mesmo debilitadas, podem permanecer vivas por décadas. Mas basta um incêndio intenso, uma estiagem prolongada ou qualquer outra perturbação para que toda a área colapse, já que não existe regeneração suficiente. No lugar das antigas coníferas, surgem arbustos e vegetação adaptada ao novo clima — alterando o regime de fogo, a capacidade de armazenamento de carbono e os habitats da fauna local.

Diante desse cenário, pesquisadores defendem uma mudança de paradigma na gestão florestal. Em algumas regiões, preservar a floresta original pode exigir investimentos gigantescos, sem garantia de sucesso. Em outras, talvez seja mais eficaz aceitar a transição ecológica e preparar o terreno para espécies mais resilientes ao clima que já está se impondo.

Mapas produzidos por equipes científicas mostram exatamente onde estão essas florestas zumbis e quão profundo é o desajuste entre vegetação e ambiente. Essas informações são valiosas para orientar decisões de longo prazo, que envolvem desde prevenção de incêndios até restauração e reflorestamento.

O alerta é claro: mesmo com reduções significativas nas emissões globais, a tendência é que a área ocupada por florestas zumbis aumente nas próximas décadas. O que existe hoje nas montanhas da Califórnia pode se multiplicar em outras regiões do hemisfério norte e, eventualmente, em áreas tropicais sob pressão climática e humana.

A pergunta central passa a ser: estamos dispostos a repensar a forma como protegemos florestas em colapso climático? Ou insistiremos em restaurar o passado, mesmo quando a própria natureza já caminha para um futuro diferente?