
No dia 7 de julho, o bairro de Goiabeiras, em Vitória (ES), ganha vida com a tradicional Festa das Paneleiras. O evento homenageia um ofício secular — o modelar artesanal da panela de barro — que simboliza identidade cultural capixaba e gera emprego para cerca de 120 famílias da região.
Um ofício preservado há mais de quatro séculos
Originado nas tradições tupiguarani e una, o trabalho das paneleiras consiste em modelar, secar, queimar a céu aberto e tingir a panela com tanino extraído do mangue-vermelho.
Em 2002, o ofício foi reconhecido pelo IPHAN como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.
Hoje, o trabalho é realizado principalmente por mulheres, com habilidades transmitidas de mãe para filha em Goiabeiras Velha.
A festa e sua programação
Organizada pela Prefeitura de Vitória e Associação das Paneleiras, com apoio de entidades como CDTIV e SindiBares, a festa inclui feiras de artesanato, gastronomia e apresentações culturais — como bandas de congo e shows folclóricos..
Em edições anteriores, o evento contou com brunch à base de casquinha de siri servida nas panelas indígenas e degustações de moqueca capixaba, ressaltando ingredientes locais e a relevância da panela de barro para a culinária regional.
Reconhecimento e preservação institucional
Desde 1993, a Lei Municipal nº 3.944 instituiu oficialmente o “Dia das Paneleiras” em Vitória.
Em 2021 e 2024, o IPHAN reafirmou o valor nacional desse patrimônio imaterial. A prefeitura vem investindo na reforma do Galpão das Paneleiras, local revitalizado em 2011 e 2018, com reformas previstas no piso, vidros e infraestrutura.
Citações diretas
“O ofício das paneleiras é de extrema importância para a cidade de Vitória… suas panelas são símbolos da culinária capixaba” — afirmou Marcus Gregório, presidente da CDTIV.
A artesã Berenice Nascimento, da Associação, acrescenta:
“Esse reconhecimento repercute também na nossa economia e turismo local”.
Segundo a BBC e a Reuters, iniciativas locais que preservam saberes tradicionais, especialmente com protagonismo feminino, têm ganhado destaque como ferramentas de turismo cultural e empoderamento comunitário em diversas regiões do mundo — como o artesanato em cerâmica na Guatemala, as cestas de palha em Bangladesh e as téxteis indígenas no México.
Relatórios da UNESCO sublinham que o reconhecimento oficial e o apoio a esses ofícios geram benefícios econômicos e reforçam identidades culturais, promovendo sustentabilidade e visibilidade global.
Análise e próximos passos
A Festa das Paneleiras representa um caso exemplar onde patrimônio imaterial, empoderamento feminino e turismo cultural convergem. As iniciativas legais e institucionais — como o dia oficial, edições anuais do festival e reformas no galpão — consolida a sustentabilidade desse ofício, enquanto o reconhecimento da ONU, IPHAN e parceiros fortalece a visibilidade nacional e internacional.
Para manter essa chama acesa, é fundamental:
- Incentivar políticas de manejo do manguezal e jazidas de barro para garantir matérias-primas por gerações;
- Potencializar rotas de turismo cultural em Vitória, integrando visita ao galpão com rodas de conversa e oficinas;
- Ampliar comercialização, inclusive exportações, de panelas como produtos típicos, alinhadas à economia criativa.
A Festa das Paneleiras de Goiabeiras, marcada para 7 de julho, não é apenas uma celebração; é a afirmação de uma cultura viva, de mulheres artesãs que tecem – com mãos de barro e histórias — a identidade capixaba. Ao resguardar e promover esse patrimônio, Vitória reforça seu compromisso com história, economia, empoderamento e reconhecimento global.