Dia D de vacinação neste sábado acontece em meio à onda global de desinformação

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

O Brasil se prepara para mais um Dia D de vacinação, que acontece neste sábado, 18 de outubro de 2025, com postos de saúde abertos em todo o país para atualizar a caderneta de vacinas de crianças, adolescentes e adultos. A mobilização, organizada pelo Ministério da Saúde, busca reforçar a confiança na imunização e recuperar coberturas vacinais que caíram nos últimos anos.

Mais do que uma simples campanha, a ação nacional ocorre em um cenário mundial de desconfiança crescente na ciência e avanço de movimentos anticiência, que têm colocado em risco conquistas históricas da saúde pública.

Campanha nacional pretende recuperar coberturas vacinais

Durante o Dia D, todos os postinhos e unidades de saúde estarão abertos para aplicação de vacinas do calendário básico, como poliomielite, pentavalente, tríplice viral, hepatite B e HPV. A orientação é que pais e responsáveis levem a caderneta de vacinação para avaliação.

O governo federal tem reforçado o programa “Vacina Sempre Brasil”, com o objetivo de restabelecer a confiança da população e atingir novamente os índices de imunização que tornaram o país referência mundial. Segundo o Ministério da Saúde, campanhas nacionais como essa são essenciais para conter o risco de reintrodução de doenças já controladas, como sarampo e poliomielite.

Nos últimos cinco anos, o Brasil viu uma queda preocupante nas coberturas de vacinas infantis, fenômeno atribuído não apenas à pandemia de COVID-19, mas também à desinformação disseminada nas redes sociais.

O avanço dos movimentos anticiência no mundo

O Dia D brasileiro ocorre enquanto diversos países enfrentam o impacto direto de movimentos antivacina e discursos anticiência. Na Europa e na Ásia Central, o número de casos de sarampo explodiu: foram mais de 148 mil registros em 2024, mais que o dobro do ano anterior, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Nos Estados Unidos, o governo de Robert F. Kennedy Jr. causou forte controvérsia ao remover todos os especialistas do comitê consultivo de vacinas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), o que acendeu um alerta entre cientistas e organizações de saúde. Quinze estados norte-americanos formaram uma aliança própria para manter recomendações vacinais baseadas em evidências científicas.

A retirada dos EUA do consórcio global de vacinas Gavi, anunciada pelo próprio Kennedy Jr., também gerou preocupação internacional, já que a iniciativa ajudou a imunizar bilhões de crianças em países de baixa renda.

Na Itália, o movimento antivacina ganhou novo fôlego após declarações de políticos contrários à obrigatoriedade da vacinação. Já na Eslováquia, o governo anunciou que pretende contestar um tratado internacional de pandemias, alegando que ele comprometeria a soberania nacional — uma narrativa alinhada a teorias conspiratórias difundidas desde a pandemia de COVID-19.

Desinformação e polarização dificultam campanhas

A OMS e entidades de saúde pública alertam que a desinformação sobre vacinas tornou-se uma das principais ameaças globais à saúde. O fenômeno é alimentado por redes sociais e influenciadores digitais, que amplificam teorias sem fundamento sobre supostos riscos de imunizantes.

Especialistas explicam que o discurso antivacina costuma se apoiar em argumentos emocionais e identitários, o que o torna mais eficaz na internet do que mensagens baseadas em dados científicos. Esse processo enfraquece a confiança institucional e cria divisões políticas e ideológicas em torno de um tema que, até pouco tempo atrás, era de consenso.

Nos EUA e na Europa, a vacinação passou a ser tratada como uma questão de liberdade individual, enquanto organismos internacionais defendem que a imunização é uma responsabilidade coletiva — necessária para proteger toda a sociedade, especialmente os mais vulneráveis.

Brasil aposta em informação e mobilização

O Ministério da Saúde tem investido em campanhas educativas, parcerias com influenciadores e ações comunitárias para reconstruir a confiança da população. A comunicação institucional vem enfatizando que todas as vacinas aplicadas no país são seguras e aprovadas pela Anvisa, com acompanhamento constante de possíveis eventos adversos.

Além disso, secretarias estaduais e municipais articulam mutirões de vacinação, com horários estendidos e postos itinerantes em áreas rurais e periferias urbanas. Em muitas cidades, as campanhas também incluem atividades culturais e educativas para atrair famílias.

O desafio de reconquistar a confiança

Recuperar a confiança nas vacinas será um processo longo. A pandemia deixou cicatrizes profundas na relação entre ciência, política e sociedade. A velocidade do desenvolvimento de imunizantes contra a COVID-19, somada à avalanche de informações falsas, alimentou dúvidas legítimas que foram rapidamente exploradas por grupos anticiência.

Agora, autoridades sanitárias tentam reverter o cenário com transparência, diálogo e educação científica. O Brasil, historicamente reconhecido por sua capacidade de mobilização em saúde pública, busca retomar esse protagonismo.

Vacinar é um ato coletivo

Neste sábado, ao abrir o braço para a agulha, o gesto é maior do que parece: é um ato de confiança no conhecimento acumulado por gerações e na proteção mútua que sustenta as sociedades modernas.

O Dia D de vacinação de 18 de outubro de 2025 simboliza não apenas uma campanha, mas uma resistência — uma resposta ao ruído da desinformação e à crescente onda de desconfiança que ameaça a saúde pública em todo o planeta.

Como lembra a OMS, nenhuma outra intervenção médica salvou tantas vidas quanto as vacinas. Em tempos de fake news, reafirmar esse fato é tão importante quanto aplicar a próxima dose.