
Frio na concepção pode reduzir risco de obesidade, revela estudo japonês.
Bebês concebidos durante o inverno podem ter uma vantagem metabólica ao longo da vida. Um estudo conduzido no Japão identificou que a exposição ao frio no momento da concepção ativa mecanismos biológicos que ajudam o corpo a queimar mais calorias. A descoberta pode oferecer novas perspectivas para a prevenção da obesidade. Especialistas alertam, no entanto, que o aquecimento global pode comprometer essa proteção natural. Entender essa relação entre clima e metabolismo abre caminho para estratégias inovadoras em saúde pública.
Pesquisa japonesa liga frio ao desenvolvimento da “gordura boa”
Cientistas da Universidade de Tohoku, no Japão, analisaram dados de 356 adultos da região de Hokkaido, ao norte do país, conhecida por suas baixas temperaturas. O foco foi a atividade do tecido adiposo marrom — um tipo de gordura que consome energia para produzir calor e proteger o corpo do frio. Os pesquisadores descobriram que indivíduos concebidos entre o outono e o fim do inverno apresentavam maior presença dessa gordura protetora, mesmo na vida adulta.
De acordo com os dados, 78,2% dos homens concebidos entre meados de outubro e meados de abril tinham gordura marrom ativa. Entre os nascidos nos meses mais quentes, o índice foi de 66,0%. A diferença foi considerada estatisticamente significativa e sugeriu uma relação direta com a estação do ano em que a concepção ocorreu.
Para confirmar os resultados, o estudo foi ampliado com um segundo grupo: 286 adultos da região de Tóquio. Novamente, observou-se uma maior densidade de gordura marrom entre aqueles concebidos nos meses mais frios.
Mecanismo pode ser ativado já nos gametas
Segundo os autores do estudo, o frio pode influenciar diretamente os gametas — espermatozoides e óvulos — ativando mecanismos genéticos relacionados à resistência ao frio. Essa adaptação seria, então, transferida aos embriões, favorecendo o desenvolvimento de maior quantidade de tecido adiposo marrom. Diferente da gordura branca, que armazena calorias, a gordura marrom é metabolicamente ativa: queima energia para aquecer o corpo e, assim, contribui para um metabolismo mais eficiente.
Os pesquisadores também observaram que indivíduos com maior quantidade de gordura marrom tendem a apresentar menor índice de gordura visceral e risco reduzido de obesidade, mesmo com níveis semelhantes de atividade física e alimentação.
Aquecimento global pode impactar saúde das futuras gerações
Uma das implicações mais inquietantes do estudo diz respeito às mudanças climáticas. À medida que o planeta aquece e os invernos se tornam mais brandos, a proporção de pessoas concebidas sob temperaturas frias deve diminuir. Isso pode levar à perda gradual desse “benefício biológico” que favorece a prevenção da obesidade.
Os autores do estudo alertam para esse possível impacto indireto do aquecimento global na saúde pública. A redução de nascimentos em períodos de frio intenso pode significar, no longo prazo, populações mais propensas ao excesso de peso e a doenças associadas ao metabolismo lento.
Implicações para a prevenção da obesidade
Embora não seja possível controlar a estação do ano em que uma pessoa é concebida, os resultados do estudo japonês abrem portas para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas. Técnicas de exposição ao frio, já usadas em algumas práticas clínicas, poderiam ser aperfeiçoadas para estimular a produção de gordura marrom. Além disso, o entendimento dos mecanismos genéticos envolvidos pode inspirar medicamentos ou intervenções preventivas que repliquem os efeitos do frio de forma segura.
A pesquisa ainda está em estágio inicial, mas representa um passo relevante na compreensão dos fatores que moldam nossa saúde desde os primeiros momentos da vida.
Gordura marrom
O estudo japonês evidencia que a temperatura no momento da concepção pode ter efeitos duradouros sobre o metabolismo humano. O papel da gordura marrom como aliada na luta contra a obesidade ganha destaque, enquanto os riscos impostos pelas mudanças climáticas se mostram ainda mais complexos e abrangentes. A ciência, ao desvendar esses mecanismos, oferece caminhos para ações preventivas mais eficazes e personalizadas, que respeitem as influências do ambiente sobre o corpo humano.